Por que o day trade não funciona? Hayek, Taleb e Mises respondem

A Renda Variável virou pop no Brasil. Estamos em tempos de juros baixos e bolsa subindo. A economia começa a se recuperar levemente e a lucratividade das empresas volta a subir. Esse cenário é perfeito para que as pessoas estejam dispostas a tomar maior risco no mercado de renda variável, isto é, ações.

No meio desse crescimento, há uma atividade que está em alta: day trade. Vale lembrar que isso já existia, mas poucos aventureiros tinham conhecimento. Com a expansão do mercado acionário e das corretoras, muitas pessoas largam emprego ou sacam o dinheiro da poupança para tentar a vida no day trade.

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Day trade é basicamente comprar um ativo por um preço e vendê-lo depois por um preço maior. Quem é adepto utiliza padrões gráficos e indicadores de análise técnica para analisar dados do passado, tentar criar um modelo de predição até encontrar o momento certo de compra ou venda. 

Cada vez mais pessoas estão entrando nessa moda. Os motivos são muitos, geralmente os cursos vendidos por próprias corretoras prometem que a pessoa vai conseguir viver disso como uma profissão. No entanto, a realidade é dura e mostra que o day trade mais se aproxima de um cassino do que uma profissão real, visto que o sucesso depende muito mais do acaso do que da própria capacidade e conhecimento.

O estudo de Samy Dana mostra que mais de 90% dos day traders levam prejuízo com o passar do tempo. Isso acontece porque muitos amadores disputam com investidores profissionais, robôs de alta frequência, fundos de investimentos e instituições com funcionários muito mais preparados.

Embora o estudo de Samy Dana seja excelente no trato estatístico, um economista já havia dado a pista muitos anos atrás. Esse economista foi F.A. Hayek, prêmio nobel de economia em 1974. Hayek foi um dos maiores nomes da Escola Austríaca de Economia e foi responsável por criar a teoria do conhecimento disperso.

O problema do day trade

Essa teoria é perfeita para explicar o por quê os day traders não conseguem ser lucrativos no longo prazo, isto é, ter consistência em suas operações. 

O grande problema do day trade está em pressupor que: 

  • Há como prever o futuro utilizando o passado, 
  • Que o comportamento humano pode ser colocado dentro de um modelo
  • Dados passados serão sempre repetidos no futuro
  • O day trader tem mais conhecimento que o mercado

Mises, um dos maiores economistas da Escola Austríaca, argumenta que o comportamento humano jamais será previsível em estágio de incerteza genuína, que é o mundo que vivemos hoje. 

“Mas, por mais que assim seja, ou pareça ser para uma mente dotada de uma inteligência perfeita, permanece indubitável que para o agente homem o futuro é desconhecido. Se o homem pudesse conhecer o futuro, não teria que escolher e, portanto, não agiria. Seria um autômato, reagindo aos estímulos, sem vontade própria.” — Mises.

Ou seja, se o mercado pudesse conhecer o futuro, jamais haveriam cisnes negros, que são eventos improváveis que trazem um impacto profundo sobre mercados, economia e sociedade. Os mercados seriam 100% eficientes e os investidores jamais errariam nas suas avaliações sobre determinado ativo.

Extremistão e Mediocristão de Nassim Taleb

Nassim Taleb, autor do Cisne Negro, também é categórico sobre previsões. Ele faz uma bela analogia, separando nosso mundo em extremistão (o mundo que vivemos) e o Mediocristão, o mundo teórico.

No Mediocristão as coisas são previsíveis e eventos (por maiores que sejam) não têm impacto. As médias e a curva de Gauss conseguem explicar perfeitamente os eventos e as suas consequências. Esse é o mundo em que os day traders tentam viver, onde utilizam modelos baseados em estatísticas para criar um modelo de predição do mercado e do comportamento humano.

Por outro lado, estamos vivendo no Extremistão, um mundo onde eventos podem trazer um impacto profundo e distorcer completamente qualquer análise estatística. É um mundo exponencial, onde mudanças ocorrem o tempo todo, o que torna impossível qualquer tipo de predição.

“Nós nos preocupamos com Cisnes Negros, só que com os errados. No Mediocristão, as narrativas parecem funcionar – passado provavelmente cederá à nossa inquisição. Mas não no Extremistão, onde não há repetição, e onde é necessário suspeitar constantemente do passado furtivo e evitar a narrativa fácil e óbvia.” – Nassim Taleb.

Até mesmo a Biologia pode explicar isso. Nosso cérebro condiciona nossa mente para criar padrões que podem explicar determinados eventos, embora as variáveis que determinem tal evento sejam completamente aleatórias e inexplicáveis. Agimos assim para criar padrões e economizar energia. 

Muitos day traders argumentam que utilizam gráficos e indicadores apenas para terem probabilidades sobre o cenário A ou B, mas Mises poderia argumentar que:

“É um erro grave pensar que o cálculo de probabilidade fornece ao jogador informações que possam eliminar ou diminuir seus riscos… A característica essencial do jogo é a de lidar com a sorte, com o desconhecido. As esperanças de sucesso do jogador não se baseiam em considerações sólidas.” — Mises.

A teoria de Hayek

Por fim, chegamos ao Friederich Hayek, o prêmio nobel de Economia. Sua teoria sobre conhecimento disperso. Ele parte da ideia de que todo o conhecimento do mundo está disperso em toda humanidade. Portanto, não é possível que uma pessoa ou grupo de pessoas consiga concentrar todo esse conhecimento.

Cada agente em um mercado de bens, bens ou serviços possui conhecimento incompleto sobre a maioria dos fatores que afetam os preços nesse mercado. Por exemplo, nenhum agente tem informações completas sobre os orçamentos, preferências, recursos ou tecnologias de outros agentes, para não mencionar seus planos e vários outros fatores que afetam os preços nesses mercados.

Partindo disso, o futuro é representado por um estado de incerteza genuína. A prova disso é que os preços de mercado são o resultado de descobertas através de tentativa e erro. Cada pessoa utiliza seus conhecimentos para tentar avaliar o mercado da melhor forma possível para o momento, mesmo que ela esteja errando. 

Isso cria assimetria de informação e eventualmente erros são cometidos, fazendo com que preços sejam corrigidos para uma situação que melhor representa o valor de um ativo. Partindo disso, Hayek argumenta que toda tentativa de categorizar, determinar ou centralizar sociedades termina em fracasso, como acontecido nos regimes socialistas. 

“O caráter peculiar do problema de uma ordem econômica racional se caracteriza justamente pelo fato de que o conhecimento das circunstâncias sob as quais temos de agir nunca existe de forma concentrada e integrada, mas apenas como pedaços dispersos de conhecimento incompleto e frequentemente contraditório, distribuídos por diversos indivíduos independentes.” — F.A Hayek.

Essa argumentação é perfeita para o caso do day trader. Ninguém tem ou pode dispor mais conhecimento do que todo mercado, seja ele qual for. É por essa razão que o day trade não funciona. Estamos em um estado de incerteza absoluta, o futuro não pode ser previsto com análise estatística porque o comportamento humano é altamente imprevisível. 

Diante dessas condições, o day trader falha e perde consistência, por que acredita que o mercado pode ser previsível e moldável aos seus padrões gráficos e indicadores de análise técnica. Na realidade, ele é apenas mais uma pessoa tomando decisões em um mundo absolutamente imprevisível com um futuro ainda desconhecido.

Não pode um único day trader deter mais conhecimento do que todos os outros no mercado. Além disso, conceitos de análise técnica são amplamente conhecidos pelo mercado, o que torna mais difícil ainda a tarefa do trader se destacar.

Além disso, robôs de alta frequência conseguem detectar e decidir mais friamente sobre padrões do que qualquer ser humano, embora possam errar também, visto que o futuro é desconhecido.

Na maioria dos casos o day trade se aproxima de um cassino, onde os “jogadores” tentam encontrar alguma em um ambiente completamente aleatório e determinado pelo acaso.

Ocasionalmente, um trader pode conseguir bater o mercado em um intervalo de tempo, no entanto, é muito difícil que ele consiga consistência no longo prazo. Achar que os bons resultados serão uma constante incorre na Falácia da Mão Santa (ou jogador):

A falácia do jogador refere-se a uma série de “erros” cometidos no jogo de azar. A sua origem é acreditar que as chances de jogo futuro dependeriam do ocorrido no passado. Um exemplo muito simples mostra isto. Se uma pessoa jogou uma moeda e tirou 5 caras, a chance de tirar coroa num próximo lançamento permanece em 50%. Ou seja, os lançamentos realizados não influenciam na aposta do próximo lançamento. — César Tibúcio, professor titular da UnB.

Os conceitos acima são suficientes para mostrar que o day trade não pode ser lucrativo a longo prazo. Quem está disposto a se aventurar nessa “jogada” precisa levar em consideração tais teorias caso não queria entrar em bancarrota.

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  1. O texto diz “O estudo de Samy Dana mostra que …” e “Embora o estudo de Samy Dana seja excelente no trato estatístico”, bem, se o autor da matéria tivesse lido o estudo que se refere (e talvez nao ficado apenas na entrevista rasteira da rádio JP) “É possível viver de day-trading?*” da FGV (verdadeiros autores não creditados: Fernando Chague (EESP-FGV) e Bruno Giovannetti (EESP-FGV)) veria que o nome de “Samy Dana” nem se quer é citado ou referenciado.

  2. .O texto diz “O estudo de Samy Dana mostra que …” e “Embora o estudo de Samy Dana seja excelente no trato estatístico”, bem, se o autor da matéria tivesse lido o estudo que se refere (e talvez nao ficado apenas na entrevista rasteira da rádio JP) “É possível viver de day-trading?*” da FGV (verdadeiros autores não creditados: Fernando Chague (EESP-FGV) e Bruno Giovannetti (EESP-FGV)) veria que o nome de “Samy Dana” nem se quer é citado ou referenciado.

  3. ..O texto diz “O estudo de Samy Dana mostra que …” e “Embora o estudo de Samy Dana seja excelente no trato estatístico”, bem, se o autor da matéria tivesse lido o estudo que se refere (e talvez nao ficado apenas na entrevista rasteira da rádio JP) “É possível viver de day-trading?*” da FGV (verdadeiros autores não creditados: Fernando Chague (EESP-FGV) e Bruno Giovannetti (EESP-FGV)) veria que o nome de “Samy Dana” nem se quer é citado ou referenciado.

  4. conheci o site hoje, li esse artigo, gostaria de fazer uma pergunta, e no caso de arbitragem de bitcoin, tem alguma diferença de daytrade???

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