Com o surgimento repentino e arrasador da nova variante Delta da Covid-19 em diversos países pelo mundo, interferiu direta e negativamente nos investimentos realizados por investidores estrangeiros na B3 durante o mês de julho. O total de aplicações estrangeiras retiradas da Bolsa já superam a casa dos R$ 7 bilhões de reais.
Valor que além de gerar preocupação sobre o crescimento do mercado de investimentos na Bolsa brasileira, também indica uma interrupção na curva de investidores que vinha crescendo positivamente desde março com impulso da grande liquidez global e do otimismo com o avanço da vacinação.
Com a possibilidade de se tornar necessário a imposição de novas medidas restritivas para combater o avanço da variante Delta, a retirada de investimentos da Bolsa sinaliza a tamanha preocupação de investidores de todo o mundo a respeito da recuperação da economia mundial, principalmente em países emergentes, como o Brasil.
“Essa saída em julho pode ser interpretada como uma reavaliação menos otimista do crescimento global”, afirma Tony Volpon, ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central do Brasil (BC) e atual chefe da gestora WHG.
Balanço da B3
Apesar da leva de investimentos sendo retirados da Bolsa brasileira no último mês de julho , o saldo em 2021 ainda é positivo e representa um valor na casa dos R$ 41 bilhões de reais, de acordo com dados disponibilizados pela própria B3.
Vale ressaltar que os dados sobre a quantidade de investimentos não consideram o ingresso de recursos vindos de fora do país como participantes em ofertas de ações. Setor que ganhou corpo recentemente com a abertura de capital de novas empresas, e no ano passado, o seu fluxo na Bolsa brasileira foi negativo em R$ 32 bilhões.
“Houve uma correção no mercado. Em relação ao mercado brasileiro, há ainda preocupações em torno da desaceleração da economia chinesa e como isso pode afetar os preços das commodities”, afirmou o atual chefe da gestora WHG. Para Volpon, o movimento tende a ser passageiro: “Em até dois meses voltaremos à trajetória de recuperação.”
Segundo João Leal, economista da gestora Rio Bravo, a precariedade no ambiente institucional no Brasil impulsiona esse dado negativo. “A reforma tributária recentemente apresentada pelo governo merece destaque, devido às mudanças propostas para a tributação de dividendos. Essa insegurança jurídica é especialmente danosa.”
Alta no número de investidores na bolsa de valores
Recentemente, vem sendo notório o crescimento do número de pessoas físicas investindo na bolsa de valores brasileira. Entre os dados mais relevantes, surpreende o aumento entre 2019 e 2020, onde o saldo subiu de 1.681.033 para 3.229.318, aumento de 92% em 1 ano.
Ainda que com pouca informação sobre como tudo funcionava, novos investidores entraram na bolsa de valores, atraídos pelos preços baixos de ações de grandes empresas. Muitos leitores provavelmente ouviram alguém dizer: “com certeza esta ação vai voltar aos valores anteriores da pandemia”.
É fato que diversas pessoas perderam renda, sendo necessário até mesmo utilizar suas reservas de emergência para manter seu custo de vida. Motivo que faz-se necessário levar em conta se esses novos investidores estão tomando as devidas precauções no mercado de renda variável. É preciso estar atento e entender onde está se investindo.
Entretanto, com o aumento da acessibilidade nas plataformas digitais que, antes, em sua maioria eram pagas, facilitou a vida do novo acionista ao se arriscar no mercado de ações, onde as mesmas chegam a oferecer até alguns cursos gratuitos para ambientação destes investidores.