Indústria registra pior nível de ociosidade dos últimos 20 anos

Setor operou em abril com pouco mais da metade da sua capacidade total. Segmentos mais impactados foram os de vestuário, veículos e couros/calçados.

Com a crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria brasileira atingiu em abril o menor patamar já registrado, segundo pesquisa divulgada nesta segunda-feira (4 de abril) pela Fundação Getúlio Vargas.

O indicador alcançou o percentual de 57,5% em abril, menor valor da série histórica iniciada em janeiro de 2001. Isso significa que, em média, o setor industrial operou com pouco mais da metade da sua capacidade total.

O NUCI médio da indústria está 15,9 pontos abaixo do mínimo observado durante a crise do período entre 2014 e 2016.

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Setores mais afetados

Segundo o levantamento, os segmentos mais impactados em abril foram os de vestuário, veículos e couros/calçados.

“A diminuição da demanda e a necessidade de fechamento de fábricas fez com que esses segmentos operassem com menos de 25% da sua capacidade total, como podemos ver no gráfico abaixo. Em relação ao nível de utilização médio, esses segmentos estão mais de 50 p.p. abaixo da média de cada setor no período de janeiro de 2001 a março de 2020”, informou a FGV.

“Mesmo no pior momento da crise mais longa das últimas décadas, o nível médio da atividade industrial não foi tão comprometido quanto observamos agora”, acrescentou o relatório da pesquisa, destacando que no segmento de vestuário o nível de utilização da capacidade se encontra 63,7 p.p. abaixo do mínimo do período de crise, enquanto Couros/Calçados e Veículos Automotores se encontram -47,1 p.p. e -44,0 p.p., respectivamente.

74% dos empregados da indústria automotiva têm contrato suspenso ou jornada reduzida temporariamente

Setores menos impactados

Por outro lado, os segmentos de alimentos, celulose/papel e farmacêutico mantiveram praticamente o mesmo nível de ocupação (acima de 74%), beneficiados pelo aumento da demanda – interna no caso de farmacêutica e externa para alimentos e celulose.

“Esses setores tendem a ser menos impactados pela crise, já que a produção de remédios, comida e produtos para higiene e embalagem é considerada essencial nesse momento”, destacou a FGV.

Para os próximos meses, a perspectiva é de a atividade industrial deva se manter em níveis baixos em função da deterioração de dois indicadores importantes como nível de estoques e produção prevista. 

“Por esse motivo, dependendo da duração das medidas de isolamento social, da necessidade de fechamento de fábricas ou diminuição de turnos e, principalmente, do nível elevado de incerteza, poderemos ver o NUCI atingindo novo mínimo histórico”, avalia o levantamento.

Utilização de Capacidade Instalada (UCI)

utilização de capacidade instalada indústria ociosidade
Fonte: CNI

Setores de informática e eletrodomésticos também devem apresentar um leve crescimento, já que as pessoas estão ficando mais tempo em casa. Com isso, acabam necessitando de produtos que não utilizavam antes, tais como batedeiras, processadores de alimentos, aspiradores de pó, computadores e acessórios eletrônicos.

Produção industrial também vem em baixa

Entre fevereiro e março, a produção industrial brasileira teve uma queda de 9,1%, o que reflete uma forte contração econômica no Brasil. O varejo demanda menos do atacadista, que demanda menos do industrial. De modo geral, as indústrias tendem a sofrer muito mais em crises econômicas.

A contração da demanda resulta em demissões e vai criando um efeito dominó em todos os setores da economia, aprofundando a crise. O FMI estima uma retração de 5% do PIB brasileiro. Contudo, ainda é cedo para fazer previsões, pois não sabemos se o Brasil ainda está chegando no pico da epidemia.

Por enquanto, as medidas de lockdown seguem de pé na maioria dos estados, enquanto o Governo Federal vem mostrando preocupação com o custo econômico das medidas. O fato é que haverá aumento de gastos públicos para conter os efeitos econômicos indesejados da epidemia. 

O teto de gastos e as leis de responsabilidade fiscal devem ser flexibilizados para permitir mais espaço de manobra para o governo. Mais medidas de incentivo econômico devem ser anunciadas nos próximos meses. De certo, haverá uma piora nas contas públicas, aumentando o risco-Brasil (risco de o país não pagar suas dívidas).

Contudo, o mundo inteiro está sofrendo com os efeitos da pandemia. Economias desenvolvidas sentirão o golpe, porém os mais afetados serão países em desenvolvimento, que deverão perder poder de compra em relação ao dólar e euro, moedas mais fortes.

Informações do G1: https://g1.globo.com/economia/noticia/2020/05/04/industria-registra-pior-nivel-de-ociosidade-dos-ultimos-20-anos-aponta-fgv.ghtml

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