Afinal, de onde vem os lucros dos bancos?

Você deve estar se perguntando, se a pandemia teve um impacto tão forte no mundo inteiro, como pode os bancos estarem batendo recordes de lucro?

Sem dúvidas, a pandemia da Covid-19 resultou em diversos impactos econômicos, aumento do desemprego, redução do PIB e era, portanto esperado que o resultado de instituições financeiras fosse prejudicada com o aumento da inadimplência.

Contudo, o que vimos mais recentemente foram fortes balanços de grandes instituições bancárias baterem recordes, só nesse terceiro trimestre a unidade brasileira do Santander obteve lucro de R$ 4,3 bilhões.

Nesse sentido, a dúvida que surge é, de onde vem o lucro dos bancos então? Não houve aumento da inadimplência? Qual o impacto disso, no resultado? Iremos responder essas e outras perguntas nesse artigo leitor.

O spread dos bancos e o foco no produto

Primeiramente é preciso entender que majoritariamente a receita dos grandes bancos surge do conceito de spread. O spread bancário é a diferença entre o custo de captação dos bancos e a sua remuneração em juros.

Em outras palavras é relação entre o que ele paga para receber o dinheiro e o que ele recebe para realizar operações de crédito. Dessa forma, considerando que muitos clientes simplesmente deixam o dinheiro parado na conta-corrente, esse pode ser considerado o custo mais baixo de captação.

Dessa forma, se olharmos para as taxas praticadas nos juros rotativos do cartão de crédito, algo em torno de 305% ao ano e no cheque especial, algo em torno de 240% ao ano. Fica fácil de entender o porquê de termos o maior spread bancário do mundo, segundo o Banco Mundial.

Ainda segundo o Banco Mundial, existem vários fatores que provocam tal situação no Brasil. Envolvendo desde a questão da regulação do setor e claro a baixa competitividade que existe entre os bancos.

Veja também: 2/3 dos bancos podem perder mercado se não apostarem na digitalização

Serviços em queda, mas seguem sendo importantes

O segundo ponto relevante no que se refere aos lucros dos bancos, diz respeito aos serviços praticados por estas instituições. Sem dúvidas com a entrada de novos players no mercado, a receita de serviços caiu, algumas taxas foram zeradas por todos os bancos, como as anuidades de cartões de crédito.

Contudo, o impacto tem sido muito menor do que se imaginava, ao olharmos o último resultado divulgado pelo Banco Santander, por exemplo, houve avanço na receita de serviços em relação ao terceiro trimestre do ano passado, algo em torno de 13,4%.

As fintechs de fato estão afetando os grandes bancos muito mais nessa linha de serviços, contudo, a carteira de crédito dos grandes bancos vem mostrando força e, ao mesmo tempo, em que o spread continua bastante alto e favorável, os bancos iniciam movimentos de redução nos custos operacionais, fechando agências e investindo com mais força nos canais digitais.

Ganhos provenientes de operações no mercado

Não é apenas emprestando dinheiro e rentabilizando a carteira de crédito que os grandes bancos fazem seu lucro, os mesmos ainda contam com o lucro proveniente de operações no mercado.

Assim, uma parte do dinheiro recebido em depósitos deve ser mantida em caixa ou em investimentos de alta liquidez. Com isso, o banco realiza operações de compras de títulos, como os títulos do Tesouro Nacional.

Esses investimentos realizados pagam juros menores do que os recebidos por empréstimos. Contudo, também contribuem e colaboram bastante para o aumento da receita dos bancos.

Veja também: Grandes bancos correm o risco de acabar?

Pandemia e o processo de digitalização dos bancos

Sem dúvidas, algo que já estava ocorrendo com a entrada de novos players no mercado, foi acelerada com a pandemia. Que foi a digitalização do setor. Nesse sentido, os bancos digitais que trouxeram uma proposta de oferecer serviços com isenção de taxas enquanto tudo pode e deve ser resolvido pelos meios digitais, empurrou todo o setor para digitalização.

Esse processo foi iniciado pelos grandes bancos que já oferecem uma alternativa exclusivamente digital, como é o caso da Superdigital do Santander, o Iti do Itaú e o Next do Bradesco.

Dessa forma, os grandes bancos acordaram para a nova realidade, houve claro uma queda considerável nas receitas provenientes de serviços. Contudo, a bancarização de uma população que até então não tinha muito interesse no setor, vem compensando essa linha com o fortalecimento da carteira de crédito.

E a inadimplência dos bancos, não explodiu com a pandemia?

Segundo levantamento do Banco Central, a inadimplência de fato aumentou durante o período da pandemia. Atrasos de crédito rotativo, isso é quando o consumidor não paga o valor total da fatura, tiveram um aumento médio de 11% até o primeiro trimestre de 2021.

Contudo, essa expectativa de aumento foi capturada pelos bancos que projetaram no período um aumento na inadimplência, o que resultou em aumento da provisão de devedores duvidosos.

Ainda assim, essa taxa não explodiu, e o impacto foi pequeno perto da expectativa inicial, isso se deve fundamentalmente aos auxílios disponibilizados pelo governo, além da prorrogação do auxílio.

Conclusão

Como vimos, os bancos fazem dinheiro com ou sem crise. Ainda que a expectativa de calotes fosse alta, as ações de ajuda que vieram dos governos reduziram as diversas possibilidades de calote.

Além disso, os bancos continuaram crescendo suas carteiras de crédito e tivemos um boom muito importante de bancarização, que envolve a abertura de contas digitais e as facilidades de novas tecnologias, como o PIX.

Outro ponto é que o contexto de pandemia trouxe a necessidade de avanças com os processos de digitalização do setor. O que provocou também uma necessidade de investimentos em tecnologia e redução de custos operacionais com as agências que gradualmente, vem sendo fechadas.

Por fim, o que parecia um grande fantasma para o setor, que seria o surgimento das fintechs, não tiveram impacto importante nas receitas. Embora tenha contribuído para diminuição na arrecadação com serviços. Em outras palavras, os bancos seguem firmes e resilientes, todo setor segue forte por aqui.

Veja também: Quem são os grandes inimigos dos bancos tradicionais?

 

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