Com as medidas recentes de bancos centrais, o mercado de capitais não é mais “livre”, de acordo com Ray Dalio, fundador da Bridgewater Associates, maior hedge fund do mundo.
“Hoje, a economia e os mercados são guiados pelos bancos centrais e pela coordenação com o governo central”, disse Dalio na quinta-feira, no Bloomberg Global Assets Owners Forum. Como resultado, “o mercado de capitais não é um livre mercado que aloca recursos de maneira tradicional”.
A pandemia de Covid-19 paralisou a atividade econômica e derrubou os mercados em março. A resposta sem precedentes de trilhões de dólares do Federal Reserve diminuiu as preocupações e ajudou a recuperação do choque nos mercados financeiros, mesmo com a economia dos EUA ainda em crise.
Em abril, Dalio disse que os investidores seriam “loucos” em manter títulos públicos por causa da impressão em larga escala de dinheiro pelos bancos centrais. Ele citou o ouro e certas ações, especialmente as de empresas com fortes balanços, como alguns dos beneficiários da intervenção do governo nos mercados.
De maneira mais ampla, a Bridgewater disse no mês passado que a reversão do forte crescimento observado ao longo dos anos das margens de lucro das empresas nos EUA poderia levar a uma “década perdida” para investidores de renda variável.
E, nos últimos meses, Dalio escreveu uma série de extensos ensaios que pediam a reforma do capitalismo para que o sistema beneficie a todos. Ele também disse que os EUA estão em “declínio relativo” enquanto o poder da China cresce.
Bob Prince, co-diretor de investimentos de Dalio, previu no fim de junho que o impacto da pandemia poderia durar de 18 a 24 meses, limitando as opções do governo para impulsionar a economia.
O hedge fund Pure Alpha II, carro-chefe da Bridgewater, enfrenta desafios neste ano, com queda de 20% até maio em meio ao caos do mercado causado pela pandemia de coronavírus.
A empresa foi atingida pela crise “no pior momento possível”, porque suas carteiras estavam posicionadas no início do ano para se beneficiarem da valorização dos mercados, disse Dalio a clientes em meados de março.
A empresa com sede em Westport, Connecticut, administrava cerca de US$ 138 bilhões no fim de abril em comparação com os US$ 160 bilhões no início do ano.
Trecho redigido pela Bloomberg Brasil e publicado no Infomoney.
Bancos Centrais sequestraram o livre mercado
O mercado de capitais é o que funciona mais próximo de um livre mercado: pessoas comprando e vendendo ações de acordo com o preço que elas topam negociar. Através dessas negociações, recursos são alocados, sinais são enviados: algumas empresas valem mais que outras, um setor está sub ou supervalorizado, e por aí vai.
O problema é que quando o FED passou a comprar ativos no mercado de capitais como nunca fez antes em toda sua história, o que restava de livre mercado chegou ao fim. Para evitar o choque, o FED injetou mais de US$ 2,3 trilhões na economia e recomprou ações e ativos de bancos.
O gráfico abaixo mostra o balanço de ativos sob gestão do FED, totalizando um total de mais de US$ 7,1 trilhões, fazendo com que o estímulo na crise de 2008 pareça ínfimo perto dos dados atuais.
Total de Ativos sob gestão do FED
Isso serviu para acalmar os ânimos dos investidores e fazer o mercado de ações ter o seu melhor trimestre em muitos anos. Wall Street colhe ganhos trimestrais mesmo com os casos de Covid em alta e com a recuperação rápida da economia ficando cada vez mais distante. A questão é: quem vai vencer? O otimismo de Wall Street ou a dura realidade da economia?