Nesta semana (15/06), o WhatsApp lançou uma nova funcionalidade. Agora, no próprio app de mensagens, os usuários poderão transferir dinheiro entre si, sem pagar nenhuma taxa. Na última década estamos presenciando uma desmaterialização do dinheiro e, o fato de um aplicativo com 120 milhões de usuários no país entrar nessa corrida pode alavancar o uso dos pagamentos digitais de forma exponencial.
Inicialmente, somente os clientes do Nubank, Banco do Brasil e Sicredi poderão utilizar o novo método de pagamento. Para que as transações sejam realizadas, o novo mecanismo utiliza a Cielo como “adquirente”, ainda não sendo um recurso independente da plataforma.
A nova feature, apesar de estar sendo popularmente chamada de WhatsApp Pay, é realizada pelo Facebook Pay, projeto próprio do Facebook, dono do WhatsApp. Inicialmente, o meio de pagamento foi testado na Índia, mas, por questões de regulamentação, não pôde ter seguimento.
Agora, a novidade chega ao Brasil. Mas, por que o Facebook escolheu nosso país para fazer o lançamento de uma funcionalidade tão importante?
Corrida dos apps de pagamento digital no Brasil
Nos últimos anos, vemos uma crescente dos bancos digitais no país e também, novos aplicativos focados em pagamentos digitais, como o Pic Pay. Então, já temos uma população mais acostumada a utilizar esses recursos via mobile. Além das campanhas das empresas, as lives também têm popularizado bastante essa forma de realizar transações financeiras com doações.
Mas, com a chegada do pagamento via WhatsApp esse mercado que estava crescendo pode sofrer um baque dependendo da adoção dos usuários do aplicativo de mensagens. Acessamos o “Zap” constantemente e, também, por lá, contratamos serviços, compramos produtos e dividimos contas com nossos amigos. Nada mais cômodo do que também realizar as transações por lá, certo?
Coronavírus: migração dos empreendedores do físico para o digital
Com a impossibilidade de abrir as portas, os empreendedores brasileiros migraram rapidamente para o ambiente digital para continuarem a receber sua fonte de renda.
“Mais de 10 milhões de micro e pequenas empresas movimentam a economia brasileira, e já é muito comum mandar um zap para essas empresas para tirar dúvidas sobre produtos e fazer pedidos. Com o recurso de pagamentos no WhatsApp, além de ver os produtos no catálogo, os clientes também poderão fazer o pagamento do produto escolhido sem sair do WhatsApp. Ao simplificar o processo de pagamento, esperamos ajudar a trazer mais empresas para a economia digital e gerar mais oportunidades de crescimento.” afirmou o WhatsApp em seu blog na comunicação do lançamento do novo recurso, no dia 15 de junho.
Mas, a funcionalidade para os lojistas vem com um custo: 3,99% do faturamento. Assim como as adquirentes no Brasil, o serviço de vendas pelo WhatsApp terá uma taxa para os lojistas. A diferença é que, no mercado, hoje, o repasse das vendas para o empreendedor demora de 30 a 40 dias. Com o WhatsApp, será realizada em 2 dias úteis.
Vindo para o Brasil, o Facebook pode arrecadar 3,99% desses 10 milhões de empreendedores. Nada mal, né?
Um dos maiores mercados do mundo quando falamos em redes sociais
Apesar de não sermos o país com o maior número de usuários em nenhuma das redes sociais mais populares, estamos muito próximos dos primeiros lugares em todas elas. Segundo o CanalTech, temos:
- 120 milhões de usuários no WhatsApp. Segundo a pesquisa Panorama Mobile Time/Opinion Box, o Whatsapp está instalado em 99% dos celulares dos brasileiros;
- 127 milhões de usuários no Facebook;
- 69 milhões de usuários no Instagram.
Todos essas redes sociais são do Facebook, e, logo, em um futuro, podem ser compatíveis com o Facebook Pay. Lançar um recurso por aqui, com 120 milhões de pessoas tendo a possibilidade de testá-lo pode validar de vez esse novo projeto da plataforma.
Inclusão da população desbancarizada
Hoje, temos 45 milhões de brasileiros desbancarizados. Incluir essa população, que, já pode ter acesso ao WhatsApp, pode ser uma nova fonte de renda para o Facebook.
A empresa ainda não comunicou sobre ter a possibilidade de realizar transações entre pessoas sem uma conta bancária. Mas, imagino eu, que para o WhatsApp virar uma espécie de carteira digital não demora muito.
Assim, ao invés de ter uma conta no banco, a pessoa adiciona saldo à seu WhatsApp e pode compartilhar com amigos ou pagar por produtos e serviços.
O que o Banco Central acha do novo projeto do WhatsApp?
Com previsão para lançamento em novembro, o PIX, solução de pagamento instantâneo, 24/7, do Banco Central ficou em segundo lugar após o comunicado do WhatsApp.
Claro que um projeto não substitui o outro, mas, a capilaridade do WhatsApp é enorme. É de grande interesse do BC acompanhar de perto o desenrolar da adoção dos brasileiros ao novo meio de pagamento.
Sobre o recurso, comentaram:
“O BC está acompanhando a iniciativa do WhatsApp e avalia que há grande potencial para sua integração ao PIX. Entretanto, o BC considera prematura qualquer iniciativa que possa gerar fragmentação de mercado e concentração em agentes específicos”.
A pergunta que não quer calar, e os golpes no WhatsApp?
Já temos milhares de vítimas de golpes no WhatsApp diariamente. Com a facilitação dos pagamentos, isso pode piorar.
Para manter a segurança, a empresa adotou algumas medidas:
- Para realizar transações, será necessário informar um PIN de 6 dígitos ou usar a biometria do celular;
- Existe um limite de R$ 1.000,00 por transação;
- Os valores de transferência de pagamento por usuário não podem ultrapassar R$ 5.000,00 por mês.
Mas, por aqui, temos clonagens de contas no WhatsApp, golpes que utilizam engenharia social e furto de celulares. Não sabemos ainda como a questão da segurança para o novo recurso do aplicativo de mensagens vai se desenrolar.