O Tesouro IPCA e o Tesouro Selic são contratos emitidos pela secretaria do tesouro nacional para realização de cobertura de déficit orçamentário, assim como realizar eventuais operações de crédito por antecipação de receita.
Assim sendo, o governo conta com esses títulos como uma forma de ir ao mercado se financiar, dado que o Banco Central é proibido por lei de o fazê-lo de forma direta.
Nesse sentido, do ponto de vista do investidor, o investimento nesses títulos se torna muito interessante. Pois, comprar títulos públicos é o mesmo que emprestar dinheiro para o governo, correndo um risco mínimo (risco soberano), praticamente zero, de não receber o dinheiro de volta.
Dentre algumas das opções disponíveis, falaremos nesse artigo sobre esses dois, o Tesouro IPCA e o Tesouro Selic, suas características e diferenças, com o objetivo de esclarecer para o investidor qual seria o mais adequado para o cenário atual.
Características dos Títulos Públicos em geral
Quanto às características dos títulos públicos, o que afeta de fato sua volatilidade são dois fatores, a taxa do cupom de juros paga e o seu prazo de vencimento. Essa flutuação da taxa de juros, sensível ao prazo do título e a taxa de cupom, é o que chama-se de “risco da taxa de juros”.
Dessa forma, mantida as demais variáveis, quanto maior o prazo para vencimento do título, maior será o risco da taxa de juros e quanto menor for a taxa de cupom de juros, menor será o risco da taxa de juros.
Embora exista um “acordo” no momento da compra tanto para os títulos prefixados, que possuem uma taxa absoluta negociada no momento de compra quanto para os títulos pós-fixados que são remunerados com um fator variável mais uma taxa fixa. Conforme vimos nesse artigo, a marcação a mercado altera o valor desses títulos diariamente.
No entanto, o foco aqui serão os investidores que aplicam seu dinheiro no Tesouro Direto, buscando levar esses títulos até o vencimento, se esse é o seu caso, esse artigo foi feito de forma especial para você.
Tesouro IPCA
A nota do tesouro nacional série B, é um título pós-fixado, cuja rentabilidade é composta por uma taxa anual pactuada no momento da compra mais a variação do IPCA, índice de inflação oficial do governo brasileiro, calculado pelo IBGE. Possui fluxos periódicos de pagamento ao investidor (cupom semestral de juros), a uma taxa de 6% a.a., pagos semestralmente. A rentabilidade é dada pela taxa anual de juros mais a variação do indexador do vencimento.
Tesouro SELIC
Título de rentabilidade pós fixada, atrelado à taxa básica de juros. Emitido sob a forma escritural, possui risco soberano, sua remuneração é dada pela variação da taxa SELIC diária registrada entre a data de liquidação da compra e a data de vencimento do título, acrescida, se houver, de ágio ou deságio no momento da compra.
Cenário de alta nos juros
Entendida as particularidades de cada um desses títulos, precisa-se contextualizar o momento econômico pelo qual estamos vivenciando. Nesse sentido, há uma expectativa de choque inflacionário.
Segundo o Boletim Focus, divulgado nesta segunda-feira (7), a expectativa de inflação do mercado está em 5,44%, 0,13% maior do que o divulgado no boletim anterior.
Dessa forma, o contínuo aumento das expectativas de inflação gera consigo uma projeção maior de aumento nas taxas de juros para conter essa inflação. Lembrando que a meta de inflação para este ano é de 3,75%, podendo variar entre 2,25% e 5,25%.
Além disso, quando olhamos para o futuro, o cenário não é nada animador. Nesse cenário de contínuo aumento de gastos e baixa arrecadação, a tendência é de que o País passe a ter déficits primários cada vez maiores.
Por fim, a eleição do ano que vem (2022) está se aproximando, o que deve fazer com que o governo tenha mais estímulos para continuar os gastos desenfreados visando a reeleição. Sem dúvidas, um grande convite para a irresponsabilidade fiscal.
Veja também: Com Selic em alta, o que ocorre com o financiamento imobiliário?
Afinal de contas qual é a melhor opção para esse cenário?
À primeira vista, compreendendo que estamos vivenciando um ciclo de alta, pode parecer intuitivo que o Tesouro Selic se torna o título mais interessante para se investir. No entanto, não é tão simples.
A expectativa de alta de juros é resultado de uma maior expectativa na inflação, então para aqueles que buscam se proteger ou mesmo apostam que a inflação realizada será acima da esperada (Inflação implícita). Pode ser interessante investir em títulos curtos do Tesouro IPCA.
Segundo um estudo conduzido pela casa de análise Spiti, quanto mais curto for o vencimento de um título atrelado ao IPCA, maior a sua correlação com a aceleração da inflação. O Estudo aponta que o ideal para quem busca esse tipo de “proteção” são títulos com vencimento no máximo em 2 anos.
Agora, para aqueles que pretendem manter o capital guardado como reserva, surfar a onda da alta de juros e não está apostando que a inflação realizada será maior que a esperada. Os títulos atrelados à taxa Selic, como o Tesouro Selic, tornam-se uma opção bastante interessante.
Conclusão
Como era de se esperar, não há uma resposta definitiva quando o assunto é o “melhor” investimento, dado que é sempre necessário adequar o produto à situação do investidor. No entanto, acredito que através dos esclarecimentos aqui realizados, o investidor pode ter uma melhor compreensão de qual desses dois atende melhor suas necessidades.
Dessa forma, o ponto principal é destacar que fatores como prazo de vencimento e risco de inflação não realizada, alteram os possíveis rendimentos do Tesouro IPCA, além disso, ambos possuem objetivos bem diferentes. Enquanto o Tesouro Selic possui sua remuneração completamente atrelada a um fator variável (taxa de juros).
O Tesouro IPCA possui uma parte pré-fixada que em caso de subida de juros afeta negativamente o preço do papel, principalmente quando estamos falando de títulos longos, por isso, o ideal para aqueles que buscam se proteger da inflação, é investir em títulos curtos atrelados ao IPCA.