Investir em Tesouro Direto enquanto governos imprimem trilhões é loucura

Ray Dalio, que lidera a Bridgewater Associates, o maior hedge fund do mundo, disse que os investidores seriam “loucos” se mantiverem títulos do governo em suas carteiras no ambiente atual em que os bancos centrais estão imprimindo dinheiro e as taxas de juros permanecem baixas históricas.

“Se você está segurando um título de dívida em que não lhe dá uma remuneração boa ou te remunera negativamente, e o governo está produzindo muita moeda, por que você continuaria mantendo esse título?” Dalio disse em entrevista à Bloomberg na quarta-feira.

“Este período, como o período de 1930-45, é um período em que acho que você seria muito louco por segurar títulos do governo”, acrescentou. Como os bancos centrais de todo o mundo estão afrouxando suas políticas monetárias e imprimindo dinheiro, isso muda o apelo dos títulos, disse Dalio.

Títulos do governo seriam equivalentes aos investimentos em Tesouro Direto aqui no Brasil. São investimentos em que você empresta dinheiro para o governo e ele te remunera com juros sobre o dinheiro investido.

Para investidores que procuram ativos que poderiam ganhar em meio à turbulência do mercado, Dalio disse que Ouro, algumas ações e títulos corporativos de empresas com fortes balanços financeiros são boas alternativas. Esses ativos estão prestes a entrar em alta neste ambiente de mercado, de acordo com Dalio.

O fundo de Dalio foi surpreendido pela pandemia de coronavírus, que abalou os mercados globais em fevereiro, levando a uma liquidação épica. O fundo principal da empresa, Alpha Pure II, caiu cerca de 20% no ano no final de março. 

Dalio disse que o fundo foi atingido no pior momento possível, pois apostou que os mercados continuariam subindo este ano. Desde então, Dalio dobrou sua visão de que “dinheiro é lixo”, argumentando que segurar dinheiro é um investimento ruim, mesmo durante a pandemia de coronavírus.

Trecho adaptado de Business Insider

Ray Dalio quase profético

Ainda no ano passado, Ray Dalio escreveu uma série de textos refletindo sobre a atual situação do mundo e dos mercados financeiros. Nos seus escritos, ele deixava claro que estávamos prestes a presenciar uma mudança de paradigma na economia mundial e também a sua preocupação em relação ao preço dos ativos.

Seu ponto de análise é sempre da linhagem mais histórica, observando padrões do passado, interpretando o presente e entendendo as semelhanças entre os dois períodos. Em seu texto “O mundo está louco e o sistema está quebrado”, Dalio fala sobre inflação dos ativos financeiros, mudança de “ordem mundial” e questões sobre desigualdade social.

No mesmo texto, ele também fala sobre o aumento do grau de endividamento dos países via emissão de títulos públicos:

“Ao mesmo tempo, existem grandes déficits governamentais. E é quase certeza que aumentarão substancialmente, o que exigirá que enormes quantidades de títulos de dívida sejam vendidos pelos governos.

Essas enormes quantias de títulos não podem ser absorvidas naturalmente sem elevar as taxas de juros. O problema é justamente esse: estamos no momento em que um aumento na taxa de juros seria devastador para os mercados e economias, porque o mundo está muito alavancado.

De onde virá o dinheiro para comprar esses títulos e financiar esses déficits do governo? Quase certamente virá dos bancos centrais, que comprarão a dívida governamental através de dinheiro recém-impresso.”

A questão é que desta vez, Ray Dalio não conseguiu ter um timing tão bom quanto na crise de 2008, e diferente daquela época, seu fundo levou grande prejuízo com a queda do mercado de ações. 

Expectativas de Ray Dalio

Ray Dalio, Gestor do maior Hedge Fund do mundo, é o autor da frase acima, ao se referir sobre a crise que estamos sofrendo por conta do impacto do novo Coronavírus no mundo.

A ciência na qual Dalio se debruça para entender o futuro busca compreender o passado: através da história. Ele investigou a decadência de alguns impérios e procurou padrões que se repetiram.

O que ele encontrou foi:

  1. Altos níveis de endividamento e taxas de juros extremamente baixas, o que limita os poderes dos Bancos Centrais de estimular a Economia;
  2. Má distribuição de riqueza e polarização política, o que leva ao aumento de conflitos sociais;
  3. Uma potência mundial em ascensão (hoje, a China) desafiando a potência mundial existente (os EUA ), que causa conflitos externos.

Dalio teme vivenciarmos o que foi a Grande Depressão entre os anos de 1930 e 1945, evento este que antecedeu a Segunda Guerra Mundial.

Para ele, o Dólar está com os dias contados. Usando a expressão “cash is trash” (dinheiro é lixo) acredita que com o endividamento dos EUA a relação de oferta e demanda da moeda pode se equiparar e com isso enfraquecer a moeda americana.

Ele também não acredita que a reestruturação pós-crise não irá aumentar o que ele chama de torta e com isso haver a divisão com todos que necessitarão. O tecido social sofrerá consequências que podem desencadear diversos conflitos.

A solução para ele está em diversificar em ações, que com essa crise tiveram os balanços prejudicados, mas que sobreviverão. Ele não diz quais os papéis que está colocando sua confiança, mas ressalta ser esse o melhor caminho.

Dalio confessa que durante toda sua carreira errou mais do que acertou. E que as palavras dele podem não ser levadas as mesmas decisões, mas que possam servir de alerta para que as pessoas reflitam mais sobre o que estamos a enfrentar.

Se o homem que administra a maior quantidade de dinheiro no mundo está pessimista, quem somos nós para pensar o contrário. Cautela nunca é demais.

Trecho escrito Renan Antunes – Revista Grafistas

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