Perspectivas sobre a reforma do Imposto de Renda

Na última quarta-feira, a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base da reforma do Imposto de Renda. A discussão tem abalado o mercado financeiro do país, o principal motivo é a volta da tributação sobre dividendos, que não é feita desde 1995.

A proposta no texto-base, inicialmente, previa tributação de 20%, mas, após negociações, passou a 15%. Além disso, também houve mudanças no Imposto de Renda de Pessoa Jurídica e Imposto de Renda de Pessoas Físicas. Para o IRPF, o objetivo é que o poder de consumo para as faixas de salário mais baixas aumente.

Sendo assim, a proposta foi aprovada por 398 votos a 77. Contudo, ainda serão votadas 26 propostas de alteração no texto-base. Antes de entrar em vigor, o texto deve ser aprovado pelo Senado Federal.  

Com isso, nesse texto serão expostas e explicadas as principais mudanças no texto-base aprovado pela câmara. Também discutiremos o que irá mudar de fato em termos monetários para a população brasileira.

Veja também: A Reforma Tributária vai aumentar ou reduzir impostos?

O que muda no Imposto para pessoa física

Imposto

A tabela de Imposto de Renda de Pessoa Física já está defasada faz bons anos. No entanto, como boa notícia, com a aprovação do texto-base, as pessoas passarão a pagar menos imposto.

A faixa de isenção aumentou de R$1903,98 para R$2500. Isso permitirá a entrada 5,6 milhões de novos contribuintes na faixa de isenção. Sendo assim, a um total de 16,3 milhões de pessoas entram na faixa de isenção.

Por outro lado, para trabalhadores com renda salarial maior que R$ 2500,00, também houve impacto. Estes passarão a ter um desconto menor no seu salário. É possível acompanhar as faixas salarias, isenções e alíquotas na tabela abaixo:

Faixa Salário Alíquota
Faixa 1 até R$ 2500,00: isento
Faixa 2 R5 2500,01 até R$ 3200,00 7,5%
Faixa 3 R$ 3200,01 até R$4.250,00 15%
Faixa 4 R$ 4250,01 até R$ 5.300,00 22,5%
Faixa 5 acima de R$ 5.300,01 27,5%

 

Além disso, a possibilidade de declaração simplificada segue disponível para todos. Sendo assim, aqueles que optarem por realizar declaração simplificada, podem realizar o abatimento de 20% de Imposto de Renda em cima da soma dos rendimentos tributáveis. 

Contudo, a princípio, haveria um limite de R$ 40 mil anuais para utilizar essa opção. Mas isso foi descartado pelo relato do projeto Celso Sabino, após pressão da oposição. O desconto pelo simplificado passou a ter um teto de R$ 10 mil, frente a proposta anterior de R$ 8.000.      

O que muda no Imposto para empresas

No texto-base aprovado, está previsto um corte de 15% para 8% na alíquota do Imposto de Renda para pessoas jurídicas. Também houve corte de 1% na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).  A estimativa dos governos estaduais e municipais é que haja uma perda de R$ 9,5 bilhões em contribuição. A proposta original não previa impacto fiscal para pessoas jurídicas.

Com isso, como forma de compensação, houve retirada de benefícios fiscais sobre alguns setores da economia. Entre eles, o de embarcações e aeronaves, medicamentos, produtos químicos, farmacêuticos e termoeletricidade.

Por fim, também houve alteração nas regras dos Juros sobre Capital Próprio (JCP). O texto aprovado extingue o mecanismo que as companhias utilizam para remunerar acionistas e deduzir do Imposto de Renda. Esta também foi uma mudança polêmica na proposta aprovada pela câmara.

Veja também: Imposto para bigtechs pode aumentar arrecadação do Brasil

Mudanças nos dividendos, 

Em relação a investimentos, houve diversas mudanças. Certamente a que mais abalou o mercado financeiro foi a tributação sobre dividendos. Depois de 26 anos, dividendos voltarão a ser tributados no país como forma de compensar a redução sobre os demais impostos. A taxação, a princípio, deverá ser na casa dos 15%.

Sendo assim, empresas que estão cadastradas no Simples Nacional e que optaram pelo regime de lucro presumido, faturando até R$ 4,8 milhões, estão isentas da tributação. Os dividendos de até R$ 20 mil, que são distribuídos por empresas pequenas e aqueles distribuídos por integrantes de um mesmo grupo também estão isentos da taxação.

Bolsa de Valores, FIIs, Imóveis

Algumas mudanças importantes aconteceram nas negociações na Bolsa de Valores. O atual limite de isenção de IR para transações feitas nas boxas é de R$ 20 mil no mês. No texto base, não houve mudança no valor, mas sim no período. A partir de 2022, o limite será de R$ 60mil trimestrais.

Com isso, hoje, se você negocia R$50 mil no mês, sofrerá tributação. Com o novo modelo, você não é tributado, a não ser que você passe do teto de R$ 60 mil ao final de três meses. Já em relação ao day-trade, foi extinta a alíquota maior de 20% incidente sobre as operações. Passa a valer somente a alíquota única de 15% para todos os casos.

Por outro lado, no caso dos imóveis, será possível realizar uma atualização do valor do imóvel nas declarações de IR. No entanto, o governo irá cobrar uma alíquota de 4% sobre a diferença entre o valor antigo e o novo valor.

Em relação aos fundos imobiliários, não houve alterações, apesar de uma ter havido uma proposta de tributação de 15% sobre os FIIs.

Por fim, em relação à renda fixa, foi mantida a isenção de IR. Com isso, produtos financeiros do tipo, como LCI, LCA, CRI e CRA, além dos fundos imobiliários, escaparam de qualquer tributação da reforma.

Conclusão

A reforma de imposto de renda beneficia principalmente trabalhadores assalariados. As mudanças nas faixas de isenção beneficiam principalmente aqueles possuem baixa renda e trabalhadores de classe média.

Contudo, embora a reforma seja significativa e aumente o poder de compra de boa parte da população, é bom lembrar que ainda há um déficit considerável em relação à inflação dos últimos anos.

Isso certamente implicará em uma nova necessidade de reforma em um futuro não tão distante. Principalmente em um cenário onde a inflação continua em rápida subida.

Com isso, para “pagar a conta” da diminuição da carga tributária para empresas e pessoas físicas, o governo decidiu voltar com a alíquota sobre dividendos.

A decisão foi polêmica, pois mexe com principalmente com os grupos mais ricos do país. No entanto, foi uma decisão necessária, buscando diminuir a alta carga tributária sobre o salário dos brasileiros.

Por fim, em relação à diminuição da carga tributária sobre as empresas, uma questão ficou no ar. Muitos dos estados e municípios estão com a saúde financeira comprometida.

A diminuição da tributação do IRPJ irá diminuir uma das principais fontes de receita das instituições. Será necessário acompanhar que medidas serão adotadas para compensar essa mudança. 

Veja também: Receita Federal libera consulta ao 4º lote da restituição do Imposto de Renda

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