Um ano se passou desde a chegada da pandemia no Brasil e o cenário ainda continua nebuloso, devido à preocupação com o avanço do coronavírus, às incertezas do ritmo da imunização no país e as questões políticas e fiscais que parecem nunca sair do lugar.
Há um ano foi marcado o fundo do poço das bolsas mundiais, por conta dos efeitos da pandemia. O S&P 500, índice que reflete o desempenho das 500 maiores empresas americanas de capital aberto, caiu 34% desde seu ponto mais alto em 19 de fevereiro até 23 de março, se recuperando fortemente em seguida, impulsionado principalmente pelas ações de tecnologia, que foi o segmento menos impactado pelas medidas de restrição.
Aqui no Brasil, o Ibovespa, índice da Bolsa de Valores brasileira que calcula a média de desempenho das principais ações negociadas na B3, chegou em 61.690 pontos, após diversos circuit breakers.
Naquele momento, os investidores estavam monitorando intensamente os impactos da doença na economia global. O Brasil já registrava novos casos do coronavírus e o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmava ser “uma crise passageira”.
Atualmente, apesar de o país viver o pior momento da pandemia da Covid-19, o investidor brasileiro se mantém otimista, com a esperança de dias melhores à frente.
Como resultado, no mês de março o Ibovespa (IBOV) acumulou alta de 6%, o primeiro desempenho mensal positivo do ano, com os shoppings centers liderando os maiores ganhos, tendo em vista que essas empresas tendem a se beneficiar da reabertura da economia.
Mas afinal, o que você precisa saber para investir em abril?
Vacinação determinará o sucesso da economia
Sabemos que a vacinação é a única forma de controlarmos a pandemia. A realização de uma vacinação vagarosa põe em risco a vida de inúmeras pessoas, que podem adquirir contato com o vírus e sofrerem adoecimentos, internações e até mesmo óbitos, exponencialmente.
Creio que talvez já seja o momento do Brasil repensar em uma política de fomento à inovação e priorização de investimentos em ciência e tecnologia da saúde. A pandemia mostra que esse é um investimento que salva vidas, dando ao país, projeção, influência global e de sobra, ainda é rentável.
Hoje o Brasil consegue vacinar, porém, só falta a vacina. Esse é um dos principais desafios para o acesso mais amplo e rápido à vacina, ou seja, a capacidade de produção das indústrias farmacêuticas.
Há uma demanda global, e países de renda média, como o Brasil, estão em desvantagem por não terem os mesmos recursos para fazer reserva de mercado e não serem elegíveis para receber doações, como os países de renda baixa.
Restam ao Brasil e semelhantes às iniciativas de colaboração internacional, como a Covax Facility, da OMS, acordos com empresas estrangeiras para transferência de tecnologia, compras diretas com desenvolvedores de vacinas ou, ainda, a produção de tecnologia própria.
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O grande problema do ritmo lento da imunização no país é contatado com a velocidade de disseminação da doença no país. Para se ter uma ideia, apenas na última terça (30) o Ministério da Saúde informou que morreram 3.780 pessoas em 24 horas, o pior registro diário de mortes até então.
Como resultado, enquanto os casos continuam subindo, a economia continua enfraquecida e como medida paliativa, novos estímulos, como, por exemplo, o auxílio emergencial, que irá realizar uma nova rodada de pagamentos a partir do dia 6 de abril de 2021.
A solução pode parecer simples e muitos podem dizer que “enquanto a vacinação não ocorre, mais dinheiro pode ser injetado na economia“, no entanto, a questão está longe de ser resolvida assim.
Novos pacotes de estímulos, como, por exemplo, do Governo Americano, que já alocou quase 40% do PIB em pacote de infraestrutura, fazem a inflação ganhar força e pressionar a taxa básica de juros. Por outro lado, com mais liquidez na economia, os commodities devem continuar sendo beneficiados, enquanto o dólar pode ser pode empurrado para baixo.
O que esperar do Brasil em abril?
O Brasil ultrapassou 12 milhões de casos de COVID-19 no mês passado e continua batendo recordes de mortalidade. Por outro lado, já distribuiu mais de 17 milhões de doses da vacina, o dobro do mês anterior.
No entanto, ao olharmos para as doses administradas proporcionalmente à população, o Brasil vacinou 8,32% da população,
Para que você possa ter uma noção, a cada 100 brasileiros, sete já receberam pelo menos uma dose das vacinas disponíveis contra o novo coronavírus. Desse modo, em uma lista com 151 países, o Brasil encontra-se em 72º lugar no ranking mundial de aplicações de doses de vacinas.
Os dados são do Our World Bank, base de dados mantida pela Universidade de Oxford, que foi atualizada até o dia 30 de março de 2021.
Grande parte dessa demora diz respeito à falta de gestão da pandemia e coordenação entre os três níveis de governo (federal, estadual e municipal) que travam a pauta econômica, os investimentos, os empregos e a imagem do Brasil no exterior.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse na quarta-feira (31) que o Governo Federal não pode assumir a responsabilidade pelo cronograma de entrega de vacinas contra a Covid-19. Ele argumentou que esse compromisso diz respeito aos laboratórios nacionais e internacionais que fizeram acordo com a União.
Apesar de o mercado indicar projeções com aumento no ritmo de produção e vacinação neste mês, notícias de atraso no cronograma e negativas da Anvisa para a certificação de boas práticas das empresas fabricantes das vacinas, podem mudar as projeções.
O perigo da inflação
Entra e sai mês e não podemos deixar de citar aqui a temida inflação. No Brasil a inflação atingiu 5,20% em fevereiro, no acumulado de 12 meses.
Além disso, o aumento do preço dos alimentos, causado tanto pelo aumento da demanda quanto pela menor produção, a elevação dos preços internacionais de commodities, os níveis depreciados da taxa de câmbio, com o dólar mais alto e problemas de abastecimento em alguns setores industriais causados pela pandemia, aumentando as exportações e a reduzindo da oferta no Brasil, são fatores que continuam pressionando a inflação no curto prazo.
Segundo o Relatório Focus, divulgado toda segunda-feira pelo Banco Central, a expectativa para a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2021 subiu de 4,71% para 4,81%.
Como se proteger da inflação?
Os ativos que mais se beneficiaram nos últimos 25 anos em momentos de alta da inflação no Brasil foram ações, commodities, ouro e dólar americano. Entretanto, os índices Ibovespa e Small Caps apresentaram desempenho inferior.
Sabendo que a moeda brasileira, geralmente, costuma perder valor frente ao dólar, toda vez que o mercado desconfia da capacidade do governo de cumprir as metas de inflação, a decisão mais lógico seria alocar parte do seu dinheiro na moeda americana ou em fundos cambiais, em buscar proteção em cenários como este.
Para os mais conservadores, há a opção de se exporem em ativos de renda fixa indexados à inflação, como títulos públicos do tipo Tesouro IPCA+, combinando uma parte de retorno prefixado, definido no momento da compra do papel, e o restante indexado à inflação, medida pelo IPCA.
Risco-Brasil ainda no radar
O mau desempenho da economia brasileira em 2020 não surpreendeu ninguém. No entanto, as restrições à atividade econômica por tempo indeterminado, a deterioração das contas públicas, a desvalorização da moeda e as incertezas quanto às reformas deixam a vida do investidor brasileiro cada vez mais difícil.
O endividamento do governo, por exemplo, já estava alto mesmo antes da pandemia, contudo, com a crise atual, o Governo precisou gastar mais para dar suporte à economia, aumentando a dívida.
O último Relatório de Mercado Focus apontou a projeção para o resultado primário do governo em 2021. A relação entre o déficit primário e o PIB este ano passou de 3,00% para 3,10%. Há um mês, o percentual estava em 2,80%.
Já a relação entre déficit nominal e PIB em 2021 passou de 7,10% para 7,50%, conforme as projeções dos economistas do mercado financeiro. Há quatro semanas, esta relação estava em 7,00%.
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O resultado primário reflete o saldo entre receitas e despesas do governo, antes do pagamento dos juros da dívida pública. Já o resultado nominal reflete o saldo já após as despesas com juros.
Além disso, os efeitos da inflação mais alta obrigam o Banco Central a aumentar a taxa de juros, fazendo com que as despesas do Governo cresçam proporcionalmente a essa alteração.
Sabendo disso, a Organização das Nações Unidas (ONU) fez um alerta na última segunda-feira (29) para um possível risco de países em desenvolvimento, como o Brasil, não pagarem suas dívidas por conta dos efeitos fiscais da pandemia do novo coronavírus.
Para os investidores, a solução encontrada, em busca de melhor rentabilidade e proteção em moeda forte, foi globalizar seus investimentos, tendo em vista as oportunidades de neutralização do Risco-Brasil no mercado internacional.
O grande impacto
A economia funciona, muito das vezes como um grande efeito dominó, vejamos: O risco de termos gastos fora do teto afetam as expectativas de inflação, que por sua vez, estando alta, fazem com que a taxa básica de juros suba e por consequência alteram seus investimentos, tanto na renda fixa, quanto na renda variável.
Na Bolsa de Valores essa incerteza traz grande volatilidade e o câmbio acaba sofrendo o que já observamos a dias, a alta do dólar e consequentemente, depreciação do real.
No caso da renda fixa, o aumento do risco pressupõe um movimento de achatamento da curva de juros, ou seja, indicando juros mais altos tanto no curto como no longo prazo.
Devido às incertezas sobre o Risco-Brasil, com possibilidade de um novo aumento nas taxas de juros, a rentabilidade dos títulos prefixados talvez seja um bom negócio.
Conclusão
Em suma, possuir uma carteira diversificada, com exposição à renda fixa, renda variável brasileira e internacional, torna-se muito positivo para balanceamento e a rentabilidade do portfólio de investimento, não só para o mês de abril, mas ao longo do tempo.
Não há dúvidas de que a Bolsa de Valores brasileira ainda oferece oportunidades, com empresas que possuem ótimos fundamentos, alta qualidade e gestão eficiente, mas que, por conta da pandemia, obtiveram resultados ruins. Não se deixe enganar, comprar “bom e barato” continua sendo um ótimo negócio.