O ano de 2021 ficou marcado pelo fim do ciclo de baixa nos juros, forte inflação e desânimo com os ativos de maior risco na bolsa, como ações de tecnologia e varejo que dependem mais da curva de juros.
Contudo, nesse início de 2022, o investidor estrangeiro parece estar retornando com força, o cenário de 2022 já é positivo até o presente momento, com commodities em alta, juros local aliviando um pouco em relação ao aumento esperado e dólar caindo, o cenário parece que de fato “despiorou”.
Durante 2021 a bolsa brasileira de fato não conseguiu acompanhar o desempenho das bolsas no exterior, apresentando queda de 11,92%, porém, parece que o vento mudou de direção e pelo menos alguns investidores estão enxergando que a bolsa brasileira está de fato “barata”.
Ao passo que o Ibovespa alcança o maior nível em três meses, os indicadores de Wall Street se apresentam no vermelho, com o S&P500 caindo quase 6% neste ano, será que a maré de fato virou ? vamos entender um pouco melhor nesse artigo de hoje.
Risco político calculado para a bolsa brasileira?
Ainda que a Bolsa brasileira esteja bem abatida, estamos em menos desvantagem que anteriormente em relação às Bolsas americanas, segundo avaliação dos analistas do mercado financeiro.
O questionamento que surge é: qual foi o motivo de só agora o Ibovespa alcançar um movimento de alta estável e, porque não acompanhou antes o desempenho positivo das bolsas internacionais?
Nesse sentido, uma recente declaração do ex presidente Lula coincidiu com o momento de melhora desse mercado, ao falar sobre condução de sua política econômica, Lula deu a entender que agiria com responsabilidade fiscal, além de reafirmar a possibilidade de uma candidatura com Geraldo Alckmin, o que agrada o mercado.
Com isso, para alguns analistas, o risco Lula pode já estar incluso nos preços dos ativos e qualquer movimento em direção ao centro, como o que fora realizado, pode influenciar positivamente o mercado, claro, além disso, houve corte de juros na China nesse período. O que também pode explicar o apetite maior pelo mercado brasileiro.
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Alta da bolsa e a valorização das commodities no mercado internacional
Além disso, outro fator determinante para essa recuperação da bolsa brasileira é o preço das commodities no mercado internacional, que se tornou um dos principais estímulos para a alta da bolsa no mês de janeiro.
Com isso, o petróleo alcançou o maior nível em sete anos, se aproximando dos US$ 90, havendo a possibilidade de chegar aos US$ 100 em pouco tempo. Enquanto isso, o minério de ferro passa por oscilação próximo de US$ 130.
Dessa forma, empresas do segmento de commodities arcam em torno de um terço do peso do índice, estamos falando de grandes companhias como a Vale e a Petrobras. Com isso é provável que as ações do setor sigam essa valorização.
No mais, outro fator relevante, vem do peso dos bancos, que representam por volta de 25% do índice e estão influenciando essa forte alta. Além disso, o movimento de rotation das ações beneficiam o setor, dado que investidores institucionais estão trocando ações de empresas em desenvolvimento por companhias de valor consolidadas.
No tempo em que os bancos e commodities obtêm 50% do peso da bolsa brasileira, às duas categorias unidas correspondem, por exemplo, por menos de um quarto do peso do índice S&P 500. Dessa forma, a movimentação dos investidores estrangeiros vem do interesse pela “large caps brasileira”, ou seja, empresas de grande valor de mercado.
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Bolsa americana e o risco de estar “cara”
O mercado americano parece estar desacelerando um pouco com os recentes receios do mercado em relação ao aumento de juros por parte do Fed. O Fed deve se reunir já na próxima semana. Contudo, um aumento já na próxima semana é tido como pouco provável, ainda assim, o mercado prevê quatro aumentos de 0,25 ponto percentual até o final do ano.
Esses aumentos significam o fim do programa de recompra de títulos por parte do banco central americano (Fed), o que deve reduzir a liquidez dos mercados. Além disso, resulta no aumento dos rendimentos dos treasuries (títulos do governo americano)
Nesse sentido, a maré pode estar virando por lá, dado que o mercado americano até então vinha batendo recordes atrás de recordes, podemos ver com mais propriedade esses números na trading view, uma plataforma parceira que nos auxilia para análise gráfica de ativos.
O Bitcoin também é atingido pelo movimento de alta de juros
Esse movimento de alta de juros pelo mundo, em especial nos EUA, não impacta apenas o mercado de ações, mas também o mercado de criptomoedas.
Com o iminente aumento nas taxas, o capital acaba fugindo para ativos considerados mais seguros, como os títulos públicos que se tornam mais atrativos nesse cenário.
Nesse sentido, os cripto ativos acabam ganhando uma forte correlação com ações de tecnologia que também vem sofrendo com essa expectativa no aumento de juros.
A netflix por exemplo, caiu recentemente quase 25%, embora a queda não esteja apenas relacionada com a expectativa de aumento de juros, há forte influência.
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Conclusão
Embora o mercado tenha antecipado muito o dilema eleitoral no ano anterior, assim como foi precificar os riscos fiscais, aparentemente, toda essa movimentação foi descontada nas cotações dos ativos e conforme a situação foi ficando mais evidente, a bolsa foi recuperando os excessos e reajustando a rentabilidade, ao perceber possíveis melhorias adiante.
Nesse sentido, a bolsa brasileira pode estar de fato em um momento interessante, à medida que os investidores estrangeiros percebem o mercado brasileiro como estando “barato”, esse fluxo comprador segue influenciando os aumentos recentes.
Além disso, os institucionais locais que estão vendendo ativos para alocar em títulos de renda fixa, devem voltar à medida que os ricos políticos vão sendo mitigados e as incertezas eleitorais vão diminuindo.
Por fim, nos resta aguardar para saber até quando em ano de eleição poderá acontecer melhoras para o Ibovespa prosseguir se favorecendo.