O Brasil está tecnicamente pronto a autorizar a emissão de moeda, mas no atual cenário isso não é necessário, disse o Ministro da Economia, Paulo Guedes, em reunião da comissão mista do Congresso que acompanha as ações do governo no combate à pandemia.
A emissão serve para casos de depressão econômica. Uma situação em que a atividade cai e fica estagnada, uma curva em formato de L, próxima à “armadilha da liquidez” descrita por Keynes, disse Guedes. “Estamos longe disso”, afirmou. É um cenário em que os juros vão a zero e não há diferença, em termos de rentabilidade, entre títulos e moeda.
Na armadilha de liquidez, cortes na taxa de juros não necessariamente produzem crescimento econômico. O Japão, por exemplo, enfrentou essa situação por décadas e hoje tem taxas de juros negativas.
“Se caíssemos nessa situação, poderíamos permitir ao BC fazer o que o Fed faz nos EUA”, disse. Recomprar dívida de estudantes, por exemplo, além de ativos em geral. Poderia, inclusive, recomprar dívida e emitir moeda nesse caso, que o ministro classificou como “limite”. Ele comentou que o Congresso poderia aprovar a reforma que torna o Banco Central independente e apto a fazer essas operações.
“Eu não diria que a economia cai 9%, 10%. Mas também não digo que vamos sair crescendo rápido, mas temos a chance de recuperação mais rápida do que estão prevendo”, disse Paulo Guedes.
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Emissão de moeda como forma de escapar da depressão
Os governos têm o Banco Central como ferramenta para promover o crescimento econômico através de injeção de dinheiro na economia. Essa injeção se dá de diferentes formas: reduzindo as taxas de juros, as reservas que os bancos precisam manter em caixa e também efetuando compras de ações e títulos de dívida (tesouro direto).
Com injeção monetária, o dinheiro passa a circular em maior quantidade na economia. O crédito fica mais acessível para que a população possa empreender e consumir. Esta atitude do governo é tomada para combater depressões econômicas, isto é, quando a economia passa a perder emprego e renda.
No curto prazo, estas políticas funcionam e conseguem conter a depressão econômica. No entanto, alguns críticos a essas medidas defendem que injetar dinheiro na economia pode criar distorções em diferentes setores, o que desencadearia em uma recessão ainda pior no futuro.
Em 2008, o governo brasileiro reagiu fortemente à grande crise financeira mundial e anunciou pacotes de estímulos que iam desde cortes de impostos, cortes de juros, linhas de financiamento com juros reduzidos, obras e aumento de gastos. A economia conseguiu se sair bem até 2013.
Contudo, o preço destas políticas foi cobrado pesadamente na crise de 2014 que se estendeu até 2017. O Brasil ficou em recessão enquanto seus vizinhos passavam a crescer, o que mostrava um claro descompasso com a economia global.
Os Bancos Centrais ao redor do mundo estão reagindo agressivamente à crise desencadeada pela Covid-19. O FED, Banco Central dos Estados Unidos, injetou mais de US$ 2,3 trilhões na economia norte-americana diante de um quadro grave na economia. Na Europa também houve atitude semelhante por parte do ECB (European Central Bank).