Já faz algum tempo que o interesse por investimentos no exterior tem ganhado cada vez mais força aqui no Brasil, seja abrindo uma conta no exterior, por fundos de investimento ou via ETFs. Afinal, além da crise sanitária que assola nosso país, os desafios encontrados para a economia não são nada agradáveis.
No entanto, a verdade é que quando se trata de investir em empresas estrangeiras, grande parte dos investidores não conseguem seguir em frente. Existem pelo menos três razões para que essa reação ocorra, falaremos mais sobre elas a seguir.
Vieses comportamentais
Vieses comportamentais podem ser entendidos como desvios da lógica e fuga das decisões racionais, ainda hoje, a maioria dos investidores são guiados por crenças e julgamentos pessoais na hora de investir, o que geralmente, acaba por resultar em prejuízos em suas carteiras de investimento.
A principal crença do assunto que estamos abordando aqui é em relação à inclinação dos investidores brasileiros em consolidar 100% do seu portfólio em seu país. A explicação para tal pode ser explicada pelo fato dos investidores brasileiro acreditarem na ilusão de que conseguem visualizar toda a situação política/econômica do Brasil em relação aos outros países.
Todavia, o fato é que somos bem pequenos perto do sistema global. Para ter uma ideia, o PIB brasileiro é cerca de 2% do PIB mundial, e somos 1,7% do mercado de capitais. Desse modo, investir apenas no Brasil é “fechar as portas” para muitas oportunidades no mercado internacional e obter retornos de outros mercados.
Investir no exterior significa diversificar entre mercados em busca de construir um portfólio melhor.
Diversificação de risco
É sempre importante lembrar que moramos em um país que tem historicamente problemas com a agenda de responsabilidade fiscal. Esse é um problema que corre além do tempo contra nós, sendo mais ou menos intenso, a depender do momento.
Além disso, temos acrescento uma extrema dificuldade em executar reformas estruturais que propiciem um crescimento maior. Enquanto isso, o mundo segue crescendo de forma bastante vigorosa, na última década, a renda per capita global cresceu 32%, enquanto nós, somente 1,7%.
A integração do crescimento econômico fraco, com os problemas fiscais estruturais do nosso país, fazem com que o real esteja em uma das piores posições em termos de depreciação “permanente” da moeda no longo prazo.
Conforme o novo modelo de taxa justa de câmbio divulgado pelo Bank of America em abril deste ano, o real é a moeda mais barata do mundo emergente. Pelos novos cálculos, o real está 24% mais barato do que o sugerido pelos fundamentos, maior desvio negativo numa lista de 20 moedas emergentes.
Por conta disso, a diversificação internacional é o fator mais importante para se poder manter o poder de compra do investidor, através de uma moeda forte.
Melhora do portfólio
Caso realizamos a avaliação dos retornos obtidos por dois portfólios, um com e outro sem exposição internacional, observaremos que os últimos 10 anos foram muito mais favoráveis a quem tinha uma exposição no exterior.
Conforme podemos ver no gráfico acima, é notável a diferença que faz ter uma exposição internacional. Esse resultado é derivado de duas componentes que comentamos anteriormente, a moeda fraca e o crescimento econômico americano.
Além disso, enquanto sofríamos por aqui, vivenciamos momentos de forte crise política/econômica, juntamente com o risco fiscal e possível risco inflacionário, resultando em um fraco crescimento e também um problema fiscal agudo.
Como resultado, o mercado de ações sofreu de forma bastante forte até 2015, com uma depreciação cambial relevante, o que ajudou o nosso portfólio a padecer consideravelmente menos no período.
Em contrapartida, o crescimento global foi forte no período. Na última década, com o crescimento americano ante pandemia, o S&P obteve seu maior ciclo de alta da história. Basta apenas notar a rapidez que crescem os lucros ao longo do tempo foi mudando ao longo dos últimos 70 anos, onde empresas de tecnologia crescem seus lucros a velocidades muito mais rápidas e exigem prêmios muito maiores.
A junção desses dois fatores é a prova viva de que um portfólio com exposição internacional é interessante.
Solução pode estar nos ETFs
Uma vez entendido a importância da exposição internacional, creio que a sua próxima dúvida esteja em como realizar a diversificação do seu portfólio. Com o intuito de replicar em seus benchmarks, os ETFs podem ser utilizados como formas de melhorar o seu portfólio.
Ainda que seja uma novidade em terras brasileiras, o mercado de ETFs globalmente é gigantesco, chegando hoje a ter mais de 7000 tipos diferentes, um crescimento de 22% ao ano em 17 anos. Os ETFs também contam com o valor superior a US $7,6 trilhões de dólares. Para se ter uma ideia, esse montante seria equivalente a quatro PIBs do Brasil ou metade do PIB chinês.
Além disso, com o ETF há a possibilidade de replicar exatamente tudo que você quiser. Posições compradas em volatilidade como proteção, apostar na subida das taxas americanas, adquirir empresas de tecnologia chinesa, investir em apostas em ouro, investir em dívidas de países emergentes, investir em Bitcoin e outras criptomoedas, as opções são praticamente inesgotáveis.
Para acrescentar outros benefícios, destaco nos ETFs, sua liquidez, seu preço e sua facilidade de resgate, não possuindo a carência de 30 dias. Desse modo, é possível reduzir as posições e voltar à composição original de forma mais ágil, sem depender de um período mais longo.
Conclusão
Gradualmente, o processo de vacinação em larga escala nos países desenvolvidos permitem um controle maior da doença, com redução dos números de casos e, consequentemente, de mortes.
O movimento permite uma abertura mais planejada, com retomada econômica difundindo um crescimento mais sincronizado por todo o globo. Entretanto, é evidente que existe um excepcionalismo americano, o primeiro ligado ao ritmo de vacinação e o segundo ao pacote gigantesco de estímulos.
A vacinação está sendo bastante gradual, com objetivo de imunizar toda a população, em ritmo médio de 3 milhões de doses por dia. Essa velocidade permite uma retomada mais rápida da economia, muito acima dos demais países.
Além disso, mesmo com a economia demonstrando recuperação, o governo continua a promover estímulos fiscais, como se a crise estivesse longe de acabar. O gráfico abaixo mostra a relação entre o hiato do PIB dos EUA para o restante do mundo, o que costuma deixar o dólar mais forte contra as principais moedas globais.
Devemos observar também a situação frágil em termos fiscais do Brasil, um país que tem uma dívida PIB a um nível nada confortável e ao contrário dos Estados Unidos, têm grandes dificuldades reais de fazer reformas e crescer.
Por fim, estamos a 1 ano de outra eleição presidencial e não sabemos quem assumirá o palácio do planalto e qual política econômica irá reger o nosso país. Por conta disso, precisamos estar preparados para qualquer situação, com o dólar sendo nosso porto seguro.
Em suma, acredito que, atualmente, com objetivo de replicar seus benchmarks, os ETFs podem ser utilizados como formas de melhorar o seu portfólio. Após as explicações concedidas, fica bem claro os benefícios de você ter uma diversificação do seu portfólio no exterior são evidentes e os ETFs podem lhe auxiliar com isso.