Já imaginou se tivesse tido a oportunidade de investir em empresas como Nubank, Uber ou Facebook desde o seu início?
No intuito de ajudar startups e pequenas empresas a conseguirem dinheiro para crescer e se desenvolver, surge o equity crowdfunding. Essa modalidade de investimento ocorre quando diversas pessoas se juntam para investir em uma empresa ou em uma startup, a fim de receber em troca, um percentual da companhia, com oportunidades de rendimento no futuro.
Com a taxa de juros baixa, o brasileiro está sendo incentivado a investir em ativos alternativos e ilíquidos, algo inimaginável há alguns anos, quando a renda fixa rendia 14% ao ano.
Do lado da renda variável, o equity crowdfunding vem para desmistificar o conceito de investir apenas em empresas consolidadas, mostrando ao investidor uma forma promissora de diversificar seus investimentos ao comprar participação em empresas que podem ter um grande crescimento no futuro (startups).
Dentre os motivos para o sucesso dessa modalidade de investimento, o principal está ligado às dificuldades que as startups têm em atender aos requisitos da CVM, tanto para a realização do IPO, quanto para a manutenção de estruturas de governança corporativa e compliance de excelência, como a das empresas listadas na B3.
Apesar do crescente número de IPOs neste ano, eles estão longe de serem uma realidade para as startups brasileiras, isso porque o processo de IPO pode demorar meses e ter um custo que a maioria das startups não querem tomar em primeiro momento, como a montagem de uma equipe com profissionais, com banqueiros de investimento, advogados, contadores e especialistas em CVM.
Além disso, os investidores de startup se preocupavam com investimentos de crescimento rápido, onde a lucratividade não é o objetivo principal em primeiro momento. Porém, na criação de um IPO, essa prerrogativa pode ser vista de forma negativa, acarretando perda do seu valor de mercado.
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Regulamentação para iniciantes
Apesar das dificuldades em atender aos requisitos da CVM, para a realização de IPOs, esse pretexto não desqualifica o equity crowdfunding como uma modalidade de investimento, que aliás é regulamentada no Brasil. Ou seja, é uma prática legal e regulada, assim como todas as outras que envolvem valorização do seu dinheiro, como o tesouro direto, ações, entre outras.
Em 2017, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) estabeleceu as regras para o equity crowdfunding na Instrução Normativa CVM 588. Ou seja, não é qualquer empresa ou pessoa física que pode captar fundos desta maneira, sendo todos os processos firmados em contrato, com o detalhamento do empréstimo e suas condições.
Entre as principais normas, a CVM segmenta o limite de investimento em 3 tipos de investidores:
Aos investidores qualificados, que possuem mais de R$1.000.000 (um milhão de reais) em investimentos financeiros. Para esses não existem restrições, é permitido investir entre R$100 mil e R$1 milhão.
Para aqueles que possuem entre R$100 mil e R$1 milhão, são limitados a investir apenas 10% do maior destes dois valores por ano.
Para aqueles que possuem menos de R$100 mil, são limitados pela instrução 588 da CVM, onde o investimento é de no máximo R$10 mil por ano.
Além disso, é feita uma avaliação minuciosa da empresa, levantando o histórico do empreendimento e buscando maiores garantias de que seja uma opção próspera e segura para os investidores.
As empresas podem fazer captação?
A resposta é sim, todavia algumas características devem ser observadas antes de captar investimento via equity crowdfunding:
- Devem ser Microempresas (ME) ou Empresas de Pequeno Porte (EPP);
- Ter Receita Bruta anual do ano anterior inferior a R$10 milhões;
- Deve existir um intervalo de 120 dias entre as captações;
- Possuir CNPJ, Contrato Social e Certidão Negativa de Débito (CND);
- Disponibilizar relatórios financeiros semestrais.
Plataformas de Equity Crowdfunding no Brasil
Entre 2016 e 2019, o número de plataformas que oferecem o equity crowdfunding passou de quatro para 26, um aumento de 607%, de acordo com a Comissão de Valores Imobiliários (CVM), que regulamenta esse mercado.
As plataformas de equity crowdfunding no Brasil, vem para resolver um problema de acesso aos investidores pelas startups. Com isso, as plataformas têm por finalidade realizar essa conexão, após uma seleção criteriosa, avaliando o valuation e analisando o modelo de negócio das empresas.
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No site da CVM, é possível acessar a lista das empresas liberadas para fazer operações de crowdfunding no Brasil, regulamentando e dando maior segurança aos investidores e empreendedores, facilitando a expansão dos negócios e maior captação de recursos nas plataformas.
Hoje o investidor pode ter mais informações para saber se sua opção de investimento é próspera e segura, através do uso das plataformas, que avaliam minuciosamente as empresas, levantando seus históricos de empreendimento, documentos financeiros e jurídicos, além de fornecer informações sobre as vantagens e sobre os riscos atrelados ao investimento.
CapTable
A CapTable é uma empresa regulada pela CVM que atua no captação de equity crowdfunding desde 2018. A CapTable, possui valores mínimos de investimento menores do que em outras modalidades de investimento em startups, sendo possível obter uma participação, sem a necessidade de possuir um alto patrimônio para isso.
Além disso, não há nenhuma taxa para o investidor, os custos da plataforma e do processo de avaliação são de responsabilidade das empresas que desejam captar os recursos.
EqSeed
A EqSeed começou suas operações em 2016. O processo de escolha das empresas é rígido, através da análise do histórico da empresa, plano de negócio, utilização do investimento e projeção dos resultados. Com 32 rodadas concluídas a empresa promove modelos de negócio disruptivos que estão transformando seus mercados.
Startmeup
Esta plataforma de equity crowdfunding iniciou suas operações em 2015, e a primeira captação foi realizada para a própria empresa. As empresas que desejam abrir seus projetos para investimento devem passar por um processo de aceitação conforme as regras do site.
Kria
Outra plataforma de equity crowdfunding presente no Brasil, a Kria se especializa em projetos inovadores de impactos financeiro, social e ambiental. Antes chamada de Broota, a plataforma começou em maio de 2014, lançando o próprio projeto de captação.
Além das relatadas acima, existem empresas de crowdfunding especializadas em produtos imobiliários, que não são de pequenas e médias empresas, como o caso da Glebba e da Urbe.Me.
Riscos
Como todo investimento em renda variável, o equity crowdfunding está sujeito a riscos. Para aqueles que tiverem interesse por essa modalidade de investimento, devem analisar bem as características e as condições de cada plataforma, conferindo os seus riscos e suas contrapartidas, contratando aquela que mais se encaixa ao seu perfil.
Em relação ao investimento, o investidor deve entender que está exposto a perda integral do valor aplicado, caso a empresa não atinja a eficiência desejada ou até mesmo, por falhas na gestão e no desentendimento das equipes.
É importante frisar que o equity crowdfunding é um investimento de alto risco, onde não há garantir que a startup irá prosperar ou faturar os valores previstos inicialmente no projeto.
As variâncias estão ligadas a diversos fatores, como às políticas governamentais, que podem influenciar de forma significativa, positiva ou negativa, nos rendimentos dos ativos que compõem o patrimônio da sociedade empresarial.
Além disso, a liquidez é baixa neste tipo de investimento, caso o investidor queira vender seus contratos de investimento antes do prazo estabelecido, ele só poderá negociá-los em mercado privado, dificultando a venda deste contrato.
Vantagens
Todo o potencial de risco é agrado ao potencial de ganho advindo do crescimento constante das empresas investidas. Isso porque não é incomum que empresas em estágio inicial de desenvolvimento em 5 anos cheguem a multiplicar por 10 vezes o seu valor. Essas empresas criam seu próprio oceano azul, tendo enormes faturamento e com grande possibilidade de expansão.
Referente aos negócios, o equity crowdfunding dá às startups a oportunidade de escalar e crescer sem a necessariamente depender de um investidor-anjo sozinho, de fundos ou até de empréstimos com valores altos.
Do ponto de vista do investidor, pode ser mais vantajoso para aqueles que querem gerenciar seu próprio investimento, ou seja, sem depender de decisões tomadas por gestores de fundos.
Como ganhar dinheiro no equity crowdfunding?
No equity crowdfunding o retorno do investimento aos investidores pode ser feito de várias maneiras. As mais comuns são:
- Venda da empresa: Ganho através da venda, com a respectiva participação valorizada.
- Nova rodada de investimento: Ganho com a valorização do título, ou seja, apesar de ter a mesma porcentagem na participação societária, está ficou mais valiosa.
- Conversão da participação: Ganho com o recebimento de dividendos da empresa, através da distribuição dos lucros proporcionais.
Importante frisar que o equity crowdfunding está atrelado ao crescimento da empresa no longo prazo, onde o sucesso operacional e financeiro da empresa se traduz e no retorno aos seus investidores.
Cases de sucesso
Alterbank
O Alterbank, empresa que trouxe contas digitais multimoedas a qual, diferente das demais contas digitais presentes no mercado, integra o armazenamento e a conversão de criptomoedas às operações tradicionais existentes.
Ou seja, utilização em pagamentos de contas no dia a dia (cartão físico), em plataformas online de vídeos, streaming e música, aplicativos de transportes privados e até mesmo para efetuar o pagamento de transportes públicos, como o metrô na cidade do Rio de Janeiro. A empresa abriu captação via equity crowdfunding na plataforma Captable no valor de R $2 milhões para seus planos de expansão.
A captação bateu recorde no mercado e na própria plataforma parceira, sendo o maior valor captado por uma startup na Captable, com a maior quantidade de investidores e em tempo recorde: R$1 milhão captado em menos de 48 horas. Com o valor captado, o Alterbank tem planos de abrigar um ecossistema composto por plataforma de meios de pagamento, negociação e investimentos em cripto ativos.
Lady Driver
Voltado exclusivamente para o público feminino, o Lady Driver é um aplicativo de transportes criado em 2017. Em sua primeira rodada de equity crowdfunding, a empresa levantou R $2,5 milhões com 800 investidores. Na época, o objetivo da captação era expandir os serviços do aplicativo, que atingiam 32 mil motoristas e 500 mil passageiras na cidade de São Paulo.
Além disso, os recursos também se destinaram a investimentos em tecnologia e ações de marketing para atrair usuários. O plano deu certo, hoje o aplicativo conta com cerca de 1,3 milhões de passageiras e 58 mil motoristas.
Com planos de expandir seu alcance para 50 cidades nos próximos dois anos e oferecer serviços para o transporte de crianças e adolescentes, a empresa realizou outra rodada de crowdfunding entre maio e agosto de 2020. Dessa vez, foram arrecadados cerca de R $1,22 milhões com 301 investidores.
Conclusão
É evidente que o equity crowdfunding traz benefícios e é atraente para quem quer diversificar a carteira de investimentos, sendo uma grande oportunidade para aqueles que desejam investir em ativos reais e em negócios de maneira mais direta.
A modalidade de investimento também foi fundamental no contexto brasileiro por democratizar todo um mercado.
Permitindo que qualquer pessoa possa investir em uma startup, estando exposto a um alto potencial de retorno advindo do grande potencial de crescimento dessas empresas.
Além disso, possibilitou que as startups tivessem mais acesso ao financiamento para crescer e se desenvolver de forma mais simples, reativando o empreendedorismo no Brasil.
No entanto, cabe ressaltar que os riscos também são altos, caso a empresa quebre, é possível que todo dinheiro investido se perca. Ademais, normalmente há necessidades do pequeno investidor em realizar operações de curto prazo, no entanto, há baixa liquidez neste tipo de investimento e os retornos esperados são de longo prazo.