A Crise hídrica e seus impactos na bolsa

Nos últimos meses, se instaurou, no Brasil, uma das piores crises hídricas já registradas. A escassez de chuvas levou os principais reservatórios, localizados no sistema Centro-Oeste e Sudeste, a operar em capacidade média inferior a 20%, segundo dados fornecidos pela ONS. 

Dessa forma, este cenário remete a lembranças desagradáveis do racionamento de energia de 2001. Na época, o governo federal necessitou adotar blecautes programados para evitar o total colapso do sistema elétrico brasileiro.

Contudo, o cenário energético no Brasil sofreu algumas alterações. Na época. 90% da energia era produzida por hidrelétricas. Hoje, produção energética é um pouco mais diversificada, sendo a hidrelétrica produzindo cerca de 60% a 70%. Houve crescimento na produção de fontes renováveis, como a eólica e solar.

Sendo assim, nesse artigo, iremos falar um pouco sobre como a atual crise energética pode impactar as empresas listadas na bolsa de valores. Não necessariamente todas irão sofrer impactos negativos, é necessário entender o funcionamento de cada modelo de negócio. Acompanhe esse artigo e comece a se preparar.

Veja também: Quais são os principais setores e empresas da bolsa brasileira?

Setor Elétrico

Na bolsa de valores, o setor elétrico é conhecido pela sua estabilidade e pela constância no pagamento de dividendos. Isso torna as ações do setor quase uma figurinha carimbada na carteira da maioria dos investidores.

Ao analisar o potencial do setor, é possível verificar que o Brasil é o oitavo maior gerador de energia elétrica do mundo. Essa alta capacidade é acompanhado também de uma alta de manda.

Contudo, em épocas de crises energéticas, os valores das contas de luz são severamente afetados. Embora o valor aumente, não necessariamente o lucro também vai aumentar. O motivo é que as pessoas e empresas buscam formas de economizar os gatos devido ao aumento.

Dessa forma, em 2015, a última crise energética instaurada no país, o índice que acompanha o setor energético na B3, caiu 20%. Para se ter uma ideia, a pandemia do coronavírus derrubou o mesmo índice em 26%.

Registros de queda na bolsa

Entre o final de 2020 e junho deste ano, as ações das empreses geradoras de energia Cesp, AES Brasil e Engie, sofreram queda. As três empresas sofreram que da de 14,91%, 12,9% e 8,4%, respectivamente.

Contudo, não só as geradoras sofrem com o impacto da crise, mas também as distribuidoras. Com o aumento das tarifas, tanto pela crise energética quanto pela alta da inflação, a tendência é na redução de consumo. Também surge o aumento da inadimplência e furtos de energia.

Sendo assim, empresas do segmento já sofrem com queda na bolsa. Por exemplo, A Ampla e Light registraram quedas de 5,83% e 4,59% até junho. Outras distribuidoras também já registraram queda no valor de mercado.

Por outro lado, as empresas que atuam no meio da cadeia não estão sendo afetadas, pelo contrário. Estas são responsáveis pela transmissão de energia por todo o território brasileiro. Estas, recebem valores fixos de geradoras e distribuidoras, sendo corrigidos anualmente pela inflação.

Com isso, empresas como Taesa e Isa Creep registram alta no ano. As duas acumulam crescimento de 19,5% e 14,73%, respectivamente. Resumidamente, a operação destas empresas depende apenas da estabilidade da rede.

Veja também: O que leva a TAESA pagar bons dividendos?

A crise vem atingindo outros setores

Alguns especialistas de mercado apontam que a crise hídrica deve atuar como efeito dominó em diversos setores. Por exemplo, a crise hídrica somada ao evento climática La Niña ameaça toda a safra de grãos brasileira. A agricultura é dos principais setores do nosso PIB.

Além disso, utilizando o passado como aprendizado, em 2001, houve cortes de energia programados inclusive na indústria. Com isso, as siderúrgicas tiveram suas operações prejudicadas. Inclusive, o governo federal decretou a redução do consumo entre 10% e 20% na administração pública federal, autarquias e fundações.

Dessa forma, alguns fundos estão retirando sua posição em empresas diretamente ligadas ao PIB brasileiro. Um destes fundos foi a RPS Capital, para eles o período de estiagem somado ao La Niña, “fez a gente ficar pessimista com o PIB do Brasil”.

Para ele “há grandes chances de termos PIB de zero ou menos que zero com crise hídrica”. Sendo assim, ele informa que “saímos totalmente de nomes ligados ao PIB doméstico”, disse Di Sora, gestor do fundo.

Sendo assim, a aposta está sendo o crescimento do mercado externo. Segundo Di Sora, a crise hídrica está mal precificada no Brasil. Além dele, Carlos Eduardo Rocha, sócio e gestor da Occam Brasil, explicou a razão de estar com mais de 50% do fundo exposto no risco do mercado internacional

Segundo ele, “ruídos políticos enormes e problemas fiscais piorando pelas soluções que estamos dando para eles”. Ainda, ele explica que “o Brasil não perde a oportunidade de perder as oportunidades do bull market”.

Por fim, explicou que, atualmente, o cenário exterior é mais atrativo devido aos riscos fiscais no país serem “muito grandes”.

Geração de boas oportunidades apesar da crise

Geralmente, são poucos os motivos que atingem de fato a estabilidade do setor elétrico. O primeiro são decisões políticas que afetam diretamente o setor. Já o segundo são as crises hídricas. Contudo, estas situações acabam se normalizando com o tempo e isso acaba criando boas oportunidades.

Por exemplo, na última crise registrada, em 2015, entre janeiro de 2016 e de 2017, o índice IEE subiu 60%. Sendo assim, mediante a uma crise pior que esta, certamente estes ativos estarão com preços atrativos no curto prazo. É necessário entender se os fundamentos ainda valem o investimento.

Conclusão

Dessa forma, acompanhar a crise hídrica instaurada no país não significa somente acompanhar as empresas do setor de energia. Caso de fato o cenário de redução de consumo seja imposto, isso vai abalar operações tanto da indústria quanto agricultura. Os dois setores têm grande participação no PIB, e pode até mesmo impactar o restante da cadeia.

Além disso, o impacto é sentido no bolso dos consumidores. As tarifas têm acumulado todo o aumento da inflação desde o início da pandemia. Somados a crise, as bandeiras tarifárias aumentam ainda mais a conta. Este cenário tem causado preocupação ao consumidor.

Com isso, em relação aos investimentos, é recomendado cautela ao consumidor neste momento. O cenário interno tem sofrido com questões políticas e fiscais e parece que ainda não deu a devida atenção para a crise hídrica.

Veja também: Ministro de Minas e Energia admite crise hídrica em pronunciamento na TV

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