Como a mudança climática pode desencadear uma crise financeira

De furacões no Caribe às enchentes na Europa, as mudanças climáticas representam sérios riscos para a estabilidade do sistema financeiro. Os riscos da mudança climática para o sistema financeiro possui duas origens: as consequências de desastres naturais provocadas pelo próprio aquecimento global e os efeitos econômicos, como uma crise financeira global.

No caso de desastres naturais ou da gradual elevação no nível do mar, é possível que propriedades imobiliárias se desvalorizem de uma hora para outra, o que poderia afetar a carteira de ativos de muitos bancos, seguradoras e outras instituições financeiras.

Além disso, outros efeitos econômicos sentidos pela mudança climática estão diretamente conectados aos impactos bruscos no faturamento e no nível de emprego das indústrias chaves, especialmente associadas a energia, construção e transportes.

Nesse sentido, com o potencial de grandes e súbitas mudanças nas percepções de risco, os perigos crônicos da mudança climática podem produzir eventos de reprecificação abrupta caso as expectativas dos investidores ou o sentimento sobre os riscos físicos mudam subitamente.

Impactos consideráveis do clima no setor financeiro

Com o risco iminente das mudanças climáticas, vários países já realizam pesquisas para tentar calcular o tamanho do possível prejuízo com os impactos consideráveis da mudança climática. Essas pesquisas são conhecidas como “ teste de estresse climático”.

Na França, uma pesquisa recente feita pelo Banque de France estimou o impacto da mudança climática sobre as instituições financeiras na França até 2050., considerando moderado. Segundo o banco, isto se deu porque a carteira das instituições francesas não possuem uma dependência forte das indústrias mais afetadas pela transição climática em comparação a outros países, como os Estados Unidos, por exemplo.

Diferentemente dos testes de estresse financeiro, os testes de estresse climático não resultaram em requerimentos de solvência das instituições financeiras individualmente, até o momento.

No entanto, o teste pode resultar em comunicações individuais para ajudar as instituições a ajustarem suas metodologias de gerenciamento de risco e suas posições financeiras a fim de mitigar as potenciais perdas em decorrência da mudança climática.

Desafios que as instituições financeiras apresentam em tentar mitigar os danos

Ao realizar pesquisas para tentar mitigar os problemas da mudança climática, as instituições financeiras encaram grandes problemas. Com isso, nesta parte do artigo vamos descrever quais são esses desafios.

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Disponibilidade de dados confiáveis

Ainda não existem fontes confiáveis de dados sobre o grau de exposição das instituições financeiras, seguradoras e outras empresas do ramo aos riscos climáticos. Nem todas as instituições monitoram esses indicadores e, mais importante, é necessário harmonizar a forma de coletar e reportar esses dados.

Por exemplo, recentemente aqui no Brasil foi lançada uma proposta de requisitos para divulgação de informações sobre os aspectos sociais, ambientais e climáticos aplicáveis às instituições.

Análise com foco em longo prazo

A segunda principal dificuldade para os supervisores financeiros é adaptar os modelos de previsão dos testes de estresse financeiro, que normalmente possuem valor de curto prazo, para o prazo de algumas décadas. A transferência do curto prazo para o longo prazo é importante, pois é no longo prazo que as mudanças climáticas devem impactar de forma mais forte.

O fato de conciliar os dois tempos de análise na rotina de gerenciamento de risco das instituições financeiras ainda é uma questão em aberto.

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Incerteza sobre a trajetória da mudança climática

Apesar de existirem algumas bases de dados que estimam a ocorrência de desastres causados pela mudança climática: quando devem ocorrer, onde, qual intensidade esperada, essas projeções são feitas com base no histórico do passado. As variáveis como: temperatura, nível dos oceanos e dos gases atmosféricos são analisadas com base no passado.

Com isso, o grande problema é que no futuro essas trajetórias podem se acelerar, ou não. Pela natureza desconhecida da mudança climática, os cientistas não têm segurança para garantir que suas previsões futuras são precisas. Com isso, as estimativas dos riscos físicos do aquecimento global para o setor financeiro também ficam incertas.

Incerteza sobre os riscos de transição da mudança climática

Além da dificuldade para medir os riscos físicos da alteração do clima para o sistema financeiro, também existe um grau de incerteza por parte das instituições financeiras sobre quais serão as medidas implementadas para contornar o aquecimento global.

A maioria dos países realizou compromissos para reduzir a emissão de gases estufas no Acordo de Paris, mas segundo a Agência Internacional de Energia, apenas 2% dos gastos públicos foram direcionados para investimentos em energias limpas. Contra o relógio, podem acabar tomando iniciativas mais drásticas, com maiores riscos de transição.

Assim, se bem existem informações suficientes para estimar como um choque de política econômica vai se dissipar pelos diferentes setores da economia e se refletir na carteira de bancos e seguradoras, a falta de clareza sobre quais serão exatamente as políticas adotadas é um fator complicador.

Considerações finais

A crise climática está se formando de forma lenta, porém é potencialmente desastrosa. Os impactos da mudança climática na economia constroem uma receita para o desastre, pois possuem o potencial de serem repentinos, severos e catastróficos.

Contudo, algumas mudanças já estão sendo debatidas para diminuir as potencialidades desse evento, como: taxação de carbono e diminuição do consumo dos combustíveis fósseis.

Por fim, cabe também aos bancos centrais garantir às instituições financeiras e aos bancos, medidas para que esses sejam capazes de administrar os riscos significativos que assumem.

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