Ações de tecnologia: Hora de comprar?

Após subirem com muita força durante todo o período de pandemia, as ações de tecnologia começaram a devolver os ganhos e derrubar o índice Nasdaq de Nova York, nas últimas semanas.

O Nasdaq é um índice de bolsa, que reúne 100 das maiores empresas não financeiras da bolsa eletrônica norte-americana NASDAQ, sua principal característica é concentrar companhias com atividades voltadas à tecnologia.

Após ajustes do dia 8, o Nasdaq fechou em forte queda de 2,41%, a 12.609,16 pontos, acumulando perdas de 10,54% desde o pico alcançado no dia 12 de fevereiro.

A ação da Apple teve uma das piores performances da sessão, recuando 4,13% e acumulando perdas de cerca de 18,5% em relação à sua máxima histórica, alcançada no dia 26 de janeiro. As ações da Tesla (-5,84%), Netflix (-4,47%) e Facebook (-3,39%) também sofreram fortes perdas no dia.

O motivo para a queda abrupta tem relação com o pacote de socorro à economia americana aprovado no Congresso, onde o mercado tem receios com a elevação de juros longos, que causa impacto direto na precificação dos ativos de risco.

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Turbulências em Wall Street

Wall Street começou a semana bem agitado, onde os seus principais investidores estão revisando suas posições, ainda com certo receio em relação à inflação e à economia dos Estados Unidos.

Os juros futuros pagos pelos títulos do governo americano têm subido muito ao longo das últimas semanas, diminuindo um pouco a atratividade do mercado de ações, visto que eles oferecem um rendimento “sem risco”.

O título de 30 anos pagava, ao final do ano passado, uma remuneração de 1,64% ao ano. Hoje, esse rendimento está em torno de 2,27%. Pode parecer pouco, no entanto foi um movimento bem expressivo, especialmente para o mercado de renda fixa.

Ações de tecnologia: Hora de comprar?Ações de tecnologia: Hora de comprar?
Fonte: Tradingview

Por essa razão, o índice que agrega as empresas de tecnologia Nasdaq, foi destaque nas baixas de ontem (8), acumulando uma perda na semana de quase -5%. Em relação ao topo demarcado em meados de fevereiro, a queda é superior a -10%.

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O gráfico apresenta o desempenho dos índices Nasdaq 100. Período: 04/01/2021 a 08/03/2021. Fonte: Tradingview

Jerome Powell é positivo

As expectativas de uma provável inflação e atuação do FED (Banco Central dos EUA) no crescimento dos juros no país, que atualmente estão perto de 0% ao ano, faz com que muitos investidores e até mesmo gestores, realizem um rebalanceamento de suas carteiras, reduzindo a parcela de ações e aumentando a de renda fixa .

Todavia, Jerome Powell, presidente do FED, manteve pulso firme e reafirmou que seguirá promovendo estímulos até que o nível de desemprego retorne ao patamar pré-pandemia ou acima dele e que encontra-se confortável com a política monetária atual.

Porém, devemos considerar que nos patamares atuais, os EUA precisam criar cerca de 9,5 milhões de postos de trabalho e para que essa seja uma realidade ainda há uma grande parcela de estímulos pela frente.

Em outras palavras, seria necessário criar aproximadamente 1 milhão de postos de trabalho por mês até o final do ano, para que o país possa chegar ao patamar pré-pandemia no começo de 2022.

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O gráfico mostra a evolução do mercado de trabalho nos Estados Unidos desde fevereiro de 2020. Fonte: The Wall Street Journal

Para se ter uma ideia, no mês de fevereiro foram criadas 379 mil novas vagas de trabalho, onde as novas contratações ocorreram principalmente no setor hoteleiro e de lazer, que haviam sido duramente atingidas pelas restrições implementadas na pandemia.

Para que a economia alcance 1 milhão de vagas por mês, a taxa de juros no país não pode aumentar, indicando que o discurso de Powell pode ter um pouco de sentido.

Além disso, para Powell a inflação não é o problema e ele tem razão, tendo em vista que a taxa anual do índice de preços ao consumidor está em torno de 1,5% ao ano.

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Um passo atrás

Para que possamos entender toda essa preocupação é preciso dar um passo para trás e visualizar o cenário como um todo. Na administração Trump foram feitos dois pacotes de estímulos econômicos, totalizando nada menos do que 3,5 trilhões de dólares, essa quantidade de dinheiro foi injetada na economia do país.

Desse montante, 445 bilhões foram diretamente para o bolso dos cidadãos por meio de cheques enviados pelo correio. No entanto, a pandemia aumentou a insegurança e as incertezas, o que inibiu o consumo e estimulou a poupança precaucional, fazendo com que muitos deles simplesmente não gastassem todo o dinheiro, dada a incerteza em relação à economia do país e retorno dos empregos.

Como resultado, a poupança dos americanos totaliza 3,9 trilhões de dólares, bem acima da média dos últimos anos, em torno de 2 trilhões. Podemos concluir portanto que há muito dinheiro para ser inserido na economia através do consumo ou investimento, para que esse volte a rodar.

É por essa razão que o mercado financeiro espera que, quando esse fato ocorrer, o impacto na inflação pode ser maior do que o FED espera neste momento. Ainda não se sabe quando vai ocorrer, porém com cerca de 60% da população com mais 65 anos vacinada na primeira etapa, pode ser que o dinheiro volte a circular.

Talvez, no segundo semestre do ano, a situação já esteja bem melhor e o povo decida gastar um pouco do que estava guardado na poupança.

Não para por aí

Como se não bastasse os 3,5 trilhões injetados na economia, Biden possui planos audaciosos para a retomada econômica.

O presidente anunciou mais um cheque de 1400 dólares para os cidadãos do país e o chefe de Estado também pretendia aumentar o salário mínimo em nível federal para 15 dólares por hora, dos atuais 7,25 por hora, porém esse segundo ponto foi rejeitado pelo Senado.

Com o retorno da poupança para a economia e novo pacote de estímulos com dinheiro na mão da população é possível que o mercado financeiro esteja certo em relação a uma inflação mais forte e mais rápida do que o esperado pelo FED.

Em outra hipótese, as empresas terão acesso a um crédito mais caro e mais escasso por conta da briga com os títulos do governo, que terão taxas mais polpudas.

Dois cenários possíveis

Podemos observar dois possíveis cenários se formando, um com estímulos fiscais e monetários e uma economia em recuperação, e outro com a inflação se formando. Por essa razão o investidor deve contrabalançar sua carteira com ações que se beneficiam com o crescimento de um cenário inflacionário.

Por outro lado, a transformação digital com empresas de nuvem, cibersegurança, e-commerce e 5G possibilitam um crescimento das ações de tecnologia e todas as suas derivações. Outro argumento favorável é que hoje as empresas possuem muito caixa, conforme podemos observar no gráfico abaixo.

Ações de tecnologia: Hora de comprar?

Com mais recursos em caixa e com queda das ações, as empresas poderiam executar programas de recompras de ações.

Conclusão

Podemos dizer então que seria o fim das ações de tecnologia? Muito provavelmente não, desde criança gostamos das coisas que mais brilham e piscam luzinhas, no mercado financeiro não é diferente.

Prova disso é a retomada do índice Nasdaq no dia 9, disparando mais de 4%, na esteira da recuperação das ações de tecnologia. O yield da T-note de 10 anos caíam 6,2 pontos-base, a 1,5316%, nesta terça, depois de baterem 1,613% na segunda-feira, o nível mais elevado em mais de um ano.

Além disso, o salto de quase 20% nas ações de Tesla fizeram o índice Nasdaq subir 3,69%, para 13.073,82 pontos. Outras altas importantes foram de Facebook (4,09%), Apple (4,06%), Amazon (3,76%) e Twitter (6,36%).

Como já dizia o bom velhinho, Warren Buffett, nunca aposte contra a América.

Essa estabilização do mercado de renda fixa ajuda as ações de tecnologia a recuperarem parte das suas perdas. Além disso, há esperança de um novo aumento das compras online e do acesso em casa ao entretenimento e opções de computação, mesmo que os confinamentos da covid-19 sejam reduzidos.

Contudo, não podemos afirmar que as ações de tecnologia escaparam da pressão, em virtude da recente onda de vendas no mercado de renda fixa, provocando a alta dos yields dos Treasuries.

Em suma, a verdade é que ninguém sabe o que vai acontecer e o mercado de certa forma, provou hoje que “paga pra ver” o aumento dos juros pelo FED. Os investidores dispostos a usar essas correções, podem obter uma oportunidade de serem recompensados no futuro.

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