Para que possamos responder essa pergunta devemos entender que “Qual ação comprar” e “quando comprar” são coisas totalmente opostas.
Digo isso, pois atualmente, dispomos de diversos conteúdos sobre análise fundamentalista e técnica que nos ajudam a descobrir qual a melhor ação para investir.
No entanto, encontrar algo que possa ajudá-lo a identificar os melhores momentos para se comprar uma ação é extremamente raro. Isso porque, na maioria dos casos, saber o melhor momento para comprar uma ação é algo intangível.
Aos amantes da análise técnica, inicio esse artigo afirmando que não inviabilizo toda a dedicação do seu trabalho, mas quero destacar aqui seis pontos que considero essenciais para essa discussão.
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O investidor não saberá previamente qual ação subirá mais e colocar todo seu capital nela;
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Erros de análise acontecem na jornada de qualquer investidor, seja ele experiente ou não;
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Com a estratégia correta, o lucro dos grandes acertos supera em muito o prejuízo nos erros;
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O investidor não pode prever o futuro, mas tudo o que ele precisa é investir em ações cujo potencial de valorização supera com folga qualquer incerteza, seja de riscos e até possíveis erros de análise;
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O investidor não precisa estar certo 100% das vezes;
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O investidor não precisa procurar a tacada da vida, mas também não precisa ter medo de errar.
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Dito isso, é importante destacar que o preço das ações sempre será a média ponderada de todas estimas de valor para ela naquele momento. Desse modo, todos os compradores e vendedores potenciais podem enxergar valor.
O que quero dizer é que o preço atual das ações é formada de acordo com as informações disponíveis no momento. Se novas informações chegarem, elas farão com que o preço suba ou caia de acordo com o impacto esperado no valor da empresa.
Logo, o preço passado das ações não tem relação nenhuma com o preço atual, muito menos com o futuro. Uma empresa hoje não é a mesma que foi ontem. Desse modo, não faz nenhum sentido observar o quanto uma ação subiu ou caiu no passado para decidir se vale a pena comprar essa ação no atual momento.
Dessa forma, um modelo econométrico ultra-avançado e primoroso, que analisa o que aconteceu com o preço da ação e te encaminha uma previsão, mesmo que seja altamente técnica, no fim das contas, não vai torná-lo um guru das finanças.
Mas afinal, quando as oportunidades costumam aparecer?
Oportunidade é o nome do jogo
Quero compartilhar com vocês três momentos pelo qual acredito que há boas oportunidades de compra ações.
O primeiro deles ocorre quando, por conta de um pessimismo generalizado, seja com a economia, com a política, com a bolsa, com um setor específico, no qual se torna possível comprar boas empresas a baixos preços.
Sabemos muito bem que o mercado vive sempre dentro do que chamamos de “efeito manada“, principalmente em momentos de pânico, que leva grande parte dos investidores a fazerem coisas absurdas.
Um grande exemplo disso foi com as ações de Itausa (ITSA4), uma das mais sólidas e rentáveis empresas da bolsa, que chegaram a negociar a menos de 5x lucros no começo de 2016, justamente porque o mercado não conseguia enxergar uma luz no fim do túnel para a recessão econômica do país na época.
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Além disso, há outro motivo que faz com que boas empresas negociem a baixos preços, é quando elas passam por algum problema momentâneo, seja financeiro ou operacional. Creio que podemos enxergar essa dinâmica de maneira bem clara, tendo em vista que grande parte das empresas listadas na B3, passaram e ainda passam por algo similar por conta dos efeitos da pandemia.
O ponto não é acertar o ponto de virada, mas sim visualizar os sinais de melhora, no qual podemos acompanhar nos resultados trimestrais. Nesse sentido, é aconselhável aplicar parte do seu capital, assim que começar a aparecer nos resultados, mesmo que isso signifique abrir mão de um pouco de rentabilidade no início.
Por fim, ainda existem os casos em que não há nada de errado com a empresa, ou seja, ela pode ter excelentes resultados e perspectivas, mas por algum motivo o mercado erra feio na sua precificação.
Isso pode ocorrer porque a empresa ainda está fora do radar do mercado em geral, por conta de uma forte pressão vendedora ou até mesmo sem nenhum motivo aparente.
Grande exemplo disso é a PetroRio (PRIO3), empresa de produção de petróleo, especializada na gestão de reservatórios e no desenvolvimento de campos maduros, que obteve crescimento acelerado (tanto em seus resultados, quanto no valor de suas ações) e negociando a 7x Ebitda.
PRIO tem buscado elevando sempre a sua produção, mas toma cuidado para não perder eficiência e foco.
Quando percebida pelo mercado em 2019, obteve valorização de mais de 233% no ano e ainda hoje continua gerando bons frutos aos seus investidores.
A regra é simples
Os movimentos no mercado financeiro no curto prazo podem ser completamente irracionais e descoordenados com os fundamentos, dessa forma, basta encontrarmos uma empresa, com expectativa de crescimento e mal precificada.
Importante ressaltar que quando digo mal precificada, me refiro a empresas que negociam abaixo de seu valor, de modo a termos uma boa margem de segurança.
Mas como enxergar valor em uma empresa?!
Atualmente existem 3 formas de observar o valor de uma empresa:
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Através dos seus ativos;
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Capacidade de geração de lucro atual;
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Potencial de crescimento futuro.
Para tal, é necessário realizar um valuation, projetando resultados futuros e trazendo a valor presente ou elaborar uma análise de preço relativo, ou seja, comparando as qualidades, perspectivas de crescimento e riscos de cada empresa com seus respectivos múltiplos, entendendo seu o potencial de retorno.
Bolsa é para sempre
Ninguém sabe com 100% de certeza para onde vai a bolsa, mas uma coisa é certa, ela sempre estará ali.
Peguemos os grandes ciclos de desenvolvimento brasileiro seguindo dois vieses da política econômica.
O primeiro com o Governo gastando e aumentando o endividamento, com fuga de investidores, juros subindo, dólar explodindo e economia entrando em recessão.
O segundo, com o Governo austero, significa dívida sob controle, iniciativa privada confiante, juros baixos, investimentos em alta e economia crescendo.
A análise fica mais clara quando observamos o gráfico do Ibovespa em dólares, abaixo:
O governo de FHC fez reformas estruturantes, mas não teve tempo de colher os frutos de uma economia crescente. No período, a bolsa subiu e o dólar também.
O governo Lula, em seu 1º mandato, recebeu o país pronto para crescer, fez reformas importantes, e fomos beneficiados pelo superciclo de commodities. No período tivemos bolsa para cima e dólar para baixo.
O governo Lula em seu 2º mandato e Dilma acabou com tudo o que estava sendo feito até ali. Houve deliberadamente muitos gastos públicos, o que ocasionou o endividamento do país, onde tivemos a pior crise da história. No período, tivemos bolsa para baixo e dólar para cima.
Inflação em alta em 2021: quais as causas e efeitos na economia?
A nova política econômica, como Temer e Guedes, volta a fazer reformas. Mas até então não tivemos tempo hábil para ver o crescimento econômico acontecer, ainda mais com uma pandemia a tiracolo. A taxa de juros foi derrubada e o dólar subiu. No período, tivemos o Ibov em alta e o dólar para cima.
O ponto principal é, mesmo com tantos cenários diferentes, aqui estamos, independente da política econômica.
Muito mais fácil que tentar prever para onde vai a bolsa de acordo com o cenário econômico é prever para aonde vão os resultados específicos das empresas que você investe.
Dessa forma, busque por empresas com resultados crescentes a longo prazo. Com crise ou sem crise, com mudança de política econômica ou sem, com presidente de direita ou de esquerda, com dólar alto ou baixo, com juros altos ou baixo.
Como diria Warren Buffett, “O mercado é seu servo, e não seu guia.”
É possível enxergar possibilidades de boas compras de ações no Brasil?
Comentei acima que o preço atual das ações são formados de acordo com as informações disponíveis no momento, no entanto, como analisar essa afirmação, considerando que o cenário externo, por conta da pandemia, encontra-se desafiador.
Além disso, temos diversos problemas internos para lidar, eventuais mudanças de direção no cenário político, por exemplo, podem levar a uma piora nos fundamentos da economia que, por sua vez, poderiam mudar as perspectivas dos seus investimentos.
Independente do cenário, creio que você deva se questionar sobre como as tensões internas e externas impossibilitam a dinâmica de crescimento para que a empresa continue se desenvolvendo sem depender majoritariamente do crescimento econômico do Brasil ou de outro país.
Além disso, devem ser consideradas outras questões, tais como:
- Essas empresas possuem fortes planos de expansão, com saúde financeira e capacidade de execução para transformar planos em crescimento de lucros?
- A empresa está se aproveitando de uma forte mudança de hábitos ou atuando como consolidadora de seus respectivos mercados?
- As sinalizações do potencial de crescimento são concretas?
Caso essas três questões tenham respostas positivas, o investidor poderá aproveitar o recente “mau-humor” do mercado para criar ou reforçar posições.
Cuidado com as opiniões
Muito cuidado ao dar ouvidos aos conselhos e opiniões alheias. Muitas vezes a opinião dos outros, unida às nossas dúvidas, leva às incertezas e assim a má decisões de investimento.
Por isso, por mais tentador que seja, não faz sentido tomar decisões de investimento pautadas exclusivamente em ruídos de curto prazo, por mais incômodos que eles sejam.
Saiba que ainda acontecerá muita coisa ainda este ano e muito provavelmente mudaremos diversas vezes de opinião até lá.
Sempre que houver dúvidas referente a qualquer alocação que tenha sido feita, é necessário que o investidor pare e reflita sobre os motivos que levaram a investir nos diversos ativos da carteira, além de procurar entender se o mesmo segue confortável com a sua atual alocação.
Os fundamentos importam
Sei que parece clichê dizer que “são os fundamentos que importam”, mas isso não invalida sua veracidade.
Se você é investidor de ações, por exemplo, e tem visto uma importante desvalorização dos seus ativos ao longo das últimas semanas, seria interessante se questionar sobre como andam os seus fundamentos.
Neste caso, sempre procure entender os motivos para tal, houve muitas realizações de ganho no período? A perda de espaço da empresa para outras concorrentes? A empresa não consegue honrar com os compromissos?
Caso as respostas para as perguntas sejam “não”, de modo que os fundamentos de médio e longo prazo das ações permaneçam sólidos, as quedas recentes são oportunidades, e não o contrário.
Portanto, não se deixe ser deliberadamente influenciado pelo pisca-pisca na tela do seu computador ou pelas manchetes dos jornais. Acompanhamento do cenário mundial é importante sim, mas isso não significa que devemos reagir deliberadamente.
Afinal, como diria o economista norte-americano Paul Samuelson, “Investir deve ser mais como ver a tinta secar ou assistir à grama crescer. Se você quer adrenalina, pegue $800 e vá para Las Vegas.”
Conclusão
Investir não deveria ser algo emocionante, portanto, compre sempre resultados crescentes, empresas crescentes, ou seja, aquelas que vão mudar seu patrimônio ao longo do tempo.
Não existe hora a melhor hora de comprar ou a melhor hora de vender. Bolsa é sempre e para sempre.
É claro que existirão grandes momentos de incertezas, que irão testar as nossas convicções, nesses momentos é preciso ter paciência e avaliar cuidadosamente se determinado fato tem potencial de comprometer a sua tese de investimento.
Caso não, então esta pode ser uma boa hora para reforçar a sua posição. Por outro lado, caso sua opinião seja oposta, é importante que você realize a adequação da sua carteira a nova realidade.