Mais de um ano da pandemia no Brasil se passou, e ainda hoje, diversos estados voltam a adotar o lockdown como forma de tentar impedir o avanço da covid-19. A retorna após o número de mortes renovar recordes e o sistema de saúde ficar à beira do colapso. Com o comércio físico fechado em grandes centros, como ficam as ações de shoppings?
Novo lockdown a caminho?
Com os dados atualizados Ministério de Saúde, o último domingo (21) teve 1.290 vítimas da Covid, sendo o pior fim de semana desde o início da pandemia, com 3.728 mortes por causa da doença. Desse modo, o Brasil tem um total de 11.998.233 casos e 294.042 mortes por covid-19.
Com o aprofundamento do colapso na saúde do país, começa a entrar em discussão a realização de um novo lockdown, seja em âmbito regional ou nacional, na tentativa de frear o número de casos da Covid-19.
As ações de Shoppings na Bolsa de Valores
As expectativas, pelo menos no curto prazo, é que o endurecimento das restrições de circulação possam durar pelo menos duas semanas.
No entanto, ainda que a duração de um novo lockdown seja de semanas, o que diminui a pressão sobre os lojistas dos shoppings, os investidores não estão otimistas com o atual cenário, considerando que alguns shoppings ficaram quase seis meses de portas fechadas em 2020.
Hoje, dos 601 shoppings centers de todo o Brasil, apenas 29 estão operando sem algum tipo de restrição. Ou seja, 5% do total.
De acordo com a ABF (Associação Brasileira de Franchising) a situação hoje dos shoppings é mais frágil do que há um ano. Isso porque os varejistas já carregam desempenho mais fraco de vendas há meses, e se endividaram para se manter em meio à crise.
Com isso, as incertezas rondam novamente as as ações de shoppings listadas na Bolsa de Valores, como brMalls (BRML3), Aliansce Sonae (ALSO3) e Iguatemi (IGTA3).
Os resultados dos shoppings no 4TRI20
Apesar das grandes operadoras de shoppings do país terem visto meses nebulosos em 2020 por conta lockdown provocado pela pandemia de Covid-19, o segmento obteve uma grande recuperação nas vendas no segundo semestre.
É possível observar que grande parte dessa melhora ocorreu em razão da distribuição do “corona voucher”, que elevou a massa salarial da população a níveis superiores ao pré-pandemia, conforme podemos visualizar no gráfico abaixo que apresenta efeitos do AE (auxílio emergencial) na massa salarial, de março/2019 a set/2020, em R$ bilhões.
Desse modo, os dados reportados no quarto trimestre foram, na média, bem vistos pelo mercado.
BRML3
O brMalls (BRML3), por exemplo, reportou queda de 63% no lucro líquido do 4TRI20, mas reportou um trimestre resiliente, segundo analistas.
Para os mesmos, os dados operacionais do brMalls estavam sob controle nos shoppings da companhia, com taxa de vacância apenas 4%, como o índice de inadimplência em 5,5% no 4T20 e custo de ocupação ou inquilinos de 9,5% das vendas dos varejistas.
Com esses resultados o BRMalls sinaliza que a retomada de suas atividades esta ocorrendo em ritmo adequado até esse trimestre, demonstrando melhores taxas de ocupação e vendas dos lojistas.
Hoje, as ações de BRML3 estão sendo cotadas na faixa dos R$9,00, anteriormente a pandemia o papel chegou a atingir a marca dos R$ 18,00.
Veja também: DARF: Conceito, emissão e pagamento
ALSO3
Já a Aliansce Sonae (ALSO3) reportou queda de 98% no lucro líquido do 4TRI20. Todavia, no acumulado do ano, o lucro foi de 100%, maior do que nos resultados de 2019.
Para os analistas, apesar do lockdown, a empresa foi resiliente, apresentando números sólidos, apesar de serem abaixo do esperado. As vendas da mesma loja caíram apenas 11,6% ao ano e o aluguel nas mesmas lojas caíram 5,9% ao ano. Além disso, a empresa manteve os custos de ocupação dos inquilinos em um nível baixo, de 9,5% das vendas (+ 40 bps ao ano) e a inadimplência em 5,2%. A taxa de ocupação também foi positiva, com 95,8%.
Hoje, as ações de ALSO3 estão sendo cotadas na faixa dos R$26,00, anteriormente a pandemia o papel chegou a atingir a marca dos R$ 52,00.
IGTA3
Por fim, o Iguatemi (IGTA3) teve queda de 6,7% no lucro líquido. Mas, segundo os analistas, o conjunto de indicadores foi sólido o suficiente para indicar uma recuperação, com cerca de 87% dos shoppings operados pela empresa abertos em outubro de 2020 e no meses seguintes, foram abertos 85%
Além disso, apesar da queda de receita líquida atingir 12,7%, a taxa de inadimplência foi de 9,3% e a vacância ficou em 9% do total.
Hoje, as ações de IGTA3 estão sendo cotadas na faixa dos R$35,00, anteriormente a pandemia o papel chegou a atingir a marca dos R$ 52,00.
Como parte das ações de shoppings continuam descontadas, esse é um segmento que pode apresentar boas oportunidades de investimentos ao longo de 2021, mas é preciso estar atento e acompanhar a evolução do cenário econômico.
Shoppings tentam renegociações
Com a possibilidade de um novo lockdown em todo o país, segundo levantamento da Abrasce (Associação Brasileira de Shopping Centers), apenas os estados de Roraima, Alagoas, Maranhão e Espírito Santo não haviam implementado restrições que afetam a circulação nesses centros de compras.
Desse modo, é possível esperar maior pressão para que lojistas queiram negociar isenção ou desconto de aluguéis com as administradoras de shoppings.
Alguns dos principais nomes do mercado, como Iguatemi, brMalls e Aliansce Sonae já afirmaram que não vão negociar. O argumento é de que a situação hoje é diferente da de 2020, pois o fechamento dos comércios deve durar menos tempo do que no ano passado.
Os bons resultados no 4TRI20 surpreendem investidores
Grande parte dos investidores se questionam sobre o porquê de as ações de shoppings terem tido um desempenho bom nas últimas semanas. Podemos dizer que foi um conjunto de vários fatores, entre eles o maior interesse, apesar de tardio, do Governo em combater a pandemia, os resultados resilientes de 4T20 e as avaliações satisfatórias dos clientes.
Os papéis dessas empresas também foram beneficiados pela análise do mercado financeiro, de que as ações do shopping parecem muito atraentes em termos de precificação, sendo negociadas perto de mínimos históricos, apesar do recente desempenho sólido, fazendo com que os papéis subissem.
Além disso, a no segmento foi beneficiada também pela alta nos mercados internacionais, com o novo pacote econômico de ajuda nos Estados Unidos e com um Congresso brasileiro mais governista, lançando uma nova rodada do auxílio emergencial.
Resiliência dos shoppings
Olhando pela perspectiva das empresas, os resultados divulgados pelas empresas no quarto trimestre, demonstram a resiliência dos shoppings. Ao observar os resultados podemos perceber que as vacâncias aumentaram, em média, apenas 200 bps ao ano, enquanto os aluguéis das mesmas lojas caíram 3-17% ao ano, evidenciando que os shoppings mantiveram um relacionamento saudável com os inquilinos durante os tempos difíceis.
Além disso, apesar de todas as restrições como menores horários de funcionamento e capacidade reduzida, as vendas de mesma loja caíram apenas 12-16% ao ano, apesar de o que significa que as vendas podem apresentar uma recuperação em forma de V, ou seja, na qual a retomada é tão rápida quanto a queda.
Prova de resiliência foi a adaptação do setor na pandemia, como a aferição da temperatura de colaboradores e lojistas, a suspensão dos serviços de valet parking, o ajuste das praças de alimentação, as eventuais trocas dos sistemas de ventilação, o uso obrigatório de máscaras, aumento de pontos de álcool em gel, entre outros.
Na perspectiva do mercado financeiro, ainda há muitas incertezas no momento diante das ações dos shoppings e os impactos, atuais e futuros, da pandemia.
Segundo reportagem do Traders Club, enquanto o Ibovespa já zerou as perdas durante a pandemia, o setor de shoppings é negociado a uma margem de 300 pontos, base de 500 pontos-base, sobre as taxas de juros reais de longo prazo, ante o histórico de 150 pontos a 250 pontos.
Conclusão
Dentre os principais segmentos, o de shoppings foi, sem sombra de dúvidas, o mais afetado no último ano. Observamos todas as unidades do país serem fechadas repentinamente entre os meses de março e abril, para serem reabertas de maneira muito gradual nos meses subsequentes.
Os horários de funcionamento foram reduzidos e o fluxo de visitantes foi limitado. Sem falar que muitos consumidores seguem cautelosos devido ao avanço da pandemia e as expectativas de um novo lockdown.
Todo esse cenário leva a um aumento da inadimplência, exigindo que as administradoras promovam isenções e/ou descontos aos lojistas com o objetivo de conter o avanço das vacâncias dos espaços.
No entanto, com a retomada do auxílio emergencial, o rendimento das famílias deve voltar a aumentar, impactando diretamente o varejo. A verdadeira retomada do certo dependerá do avanço na vacinação em massa no país. Quanto mais lenta for a imunização da população, mais demorada será a recuperação da economia e, por sua vez, a do segmento.
Vale destacar que mesmo acabada em 100% a pandemia, o setor de shopping terá uma nova pedra no caminho, o e-commerce.
Mesmo com a flexibilização e abertura das lojas do varejo físico para um cenário mais semelhante ao observado antes da pandemia, as compras online já se tornaram um hábito comuns entres os consumidores brasileiros.
Fato este comprovado pela expansão do e-commerce no Brasil, segundo levantamento da Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm), a participação do e-commerce nas vendas totais ultrapassaram os resultados do ano de 2019.
Em suma, apesar do ambiente de curto prazo ser desafiador para o setor, o mercado reforça sua opção pela compra nas ações de shoppings, acreditando que há um grande potencial de alta, com sinais mais tangíveis de recuperação para o segmento.