Para muitos, ser um viajante não se trata apenas de turistar entre vários lugares distintos, mas experimentar sensações diferentes, conhecer novas pessoas e olhar para além do que está na sua frente.
Em 2007 Brian Chesky e Joe Gebbia, amigos da escola de design, estavam procurando uma maneira de cobrir o custo de seu apartamento em San Francisco, que era extremamente alto.
Pensando em como poderiam obter alguma renda extra, criaram o AirBedandBreakfasts.com, com a esperança de alugar colchões de ar em seu apartamento.
A ideia não era ruim, naquela semana uma conferência internacional de design estava chegando à cidade e todos os hotéis estavam esgotados. Três designers, Michael, Kat e Amol, aceitaram a oferta e se tornaram os primeiros convidados de Brian e Joe, que foram também os primeiros anfitriões. A partir de então, os dois amigos viram uma oportunidade de negócio.
Em 2008, Nathan Blecharczyk, um engenheiro de software, juntou-se a Brian e Joe para ajudar a dupla na empreitada. Para eles, o problema era fazer estranhos se sentirem confortáveis o suficiente para ficarem nas casas de outras pessoas.
Pensando nisso, o time combinou perfis de host e convidados, programou mensagens integradas, avaliações bidirecionais e pagamentos seguros criados em uma plataforma de tecnologia. Todos esses fatores foram fundamentais para agregar confiança, tanto de anfitriões como convidados. A partir de um problema pessoal eles conseguiram reformular o conceito de hospedagem em uma escala global.
O que é o Airbnb?
O Airbnb é uma plataforma onde anfitriões e hóspedes trocam moradia por dinheiro, ou seja, um modelo de aluguel de espaços peer-to-peer. Ou seja, o Airbnb consegue conectar pessoas que buscam um espaço físico com aqueles que têm tal espaço disponível para oferecê-lo, ganhando uma comissão média de aproximadamente 12%.
Ao longo de todo o processo, os hosts e os convidados podem buscar avaliações e outras conexões para construírem confiança. O usuário da plataforma, seja ele hosts ou hospede, se conecta facilmente através de um cadastro e do registro de um meio de pagamento e recebimento, tornando o perfil verificado.
Mas se engana quem acha que esse é o único modelo de negócio da empresa atualmente. Muito além da hospedagem, a empresa busca influir em diversos aspectos das viagens de seus clientes.
O Airbnb Experiences atua como um programa de imersão, revelando facetas originais dos destinos visitados. Com ele é possível realizar treinos de corrida com atletas olímpicos, aprender a fazer uma autêntica massa italiana, com a ajuda da “nona”, desbravar lugares remotos com a National Geographic e muito mais.
Alçando voo
A ideia de dois jovens design cresceu e se expandiu, revolucionando de todos as formas possíveis, o conceito de alugar ou morar em algum apartamento, casa, flat e loft.
Brian, Joe e Nathan mudaram as regras do jogo e provaram que é possível ser flexível e menos burocrático quando o assunto é alugar um espaço, abrindo as portas para que milhões de pessoas pudessem colocar seus espaços à disposição, sem a necessidade de contratos e outros trâmites burocráticos.
Mas não foi entre os viajantes que a empresa fez sucesso, entre os amantes de Wall Street a remodelagem da indústria hoteleira chamou a atenção. Todavia, durante anos, Brian Chesky, co-fundador e CEO da companhia, resistiu aos pedidos de investidores para que a Airbnb fosse listada em alguma bolsa de valores dos Estados Unidos.
Mas em 2020 essa história mudou, a pandemia do Covid-19 impactou diretamente o negócio do Airbnb, quase levando a empresa ao colapso. A startup precisou suspender suas ações de marketing no ano de 2020, além de dispensar 25% de seu quadro de funcionários.
Com isso, a ideia de fazer um IPO nunca fez tanto sentido, afinal, abrir o seu capital, serviria para maximizar o valor da empresa, proporcionar liquidez aos investidores e funcionários, além de levantar capital para reinvestir, fazer o negócio crescer e realizar aquisições e fusões se necessário.
A notícia do IPO de Airbnb foi uma das mais aguardadas e esperadas dos últimos anos. Avaliada em US$ 18 bilhões em uma rodada privada de investimentos em abril deste ano e em US$ 31 bilhões na última captação realizada antes da pandemia, em 2017. O Airbnb estreou na bolsa de Nasdaq com alta de 113% no dia 10 de dezembro de 2020, num momento histórico para a empresa, valendo mais de US$100 bilhões.
A empresa tinha estipulado uma faixa de preço de US$ 44 a US$ 50 por ação, mas por fim, elevou os valores para US$ 68. Contudo, o interesse dos investidores foi bem além do esperado, no primeiro dia de pregão a empresa já estava sendo negociada a U$ 144.
O resultado surpreendeu até mesmo o próprio presidente executivo do Airbnb. “Não sei mais o que dizer”, disse Chesky, quando informado sobre o preço de abertura das ações em uma entrevista à televisão da agência de notícias Bloomberg.
Mas afinal, o preço atual da companhia justifica sua entrega de resultados ao longo dos anos ou seria apenas mais uma ilusão criada por este rally de fim de ano. Vamos entender melhor neste artigo mais sobre a companhia, entender seu modelo de negócios, o impacto do coronavírus e suas perspectivas de crescimento.
Airbnb em números
Duas métricas podem ser consideradas para medirmos o crescimento da empresa, sendo elas o número de noites e experiências marcadas através de sua plataforma e o seu Gross Booking Value, que representa o valor gerado em dólares em termos de receitas através da plataforma. Abaixo o gráfico que mostra a evolução de ambas as métricas:
Através dos gráficos podemos observar que o Airbnb, assim como diversas outras empresas da “nova economia”, apresentam uma característica peculiar, elas detêm um forte crescimento de receitas, mas sem ser acompanhado de lucratividade.
Suas receitas cresceram em média mais de 50% por ano de 2015 a 2019, de U$ 919,041 para U$4.808,239. No entanto, ao observarmos o balanço da empresa nos mencionados, observamos que o seu prejuízo saltou de U$135 milhões para mais de U$674 milhões em 2019.
Esse prejuízo vem essencialmente de gastos com vendas (cupons, descontos, promoções, etc) e diversas campanhas de marketing para divulgação de seu serviço. Para se ter uma ideia, os gastos com vendas e marketing correspondem a 30% das receitas.
Todavia precisamos abrir um parênteses, apesar de ainda não ter alcançado lucratividade, a empresa mostrou expansão do seu Ebitda e do seu fluxo de caixa. O forte impacto dos números em 2019 se refere principalmente a investimentos em iniciativas de crescimento e investimentos na infraestrutura técnica.
Airbnb no mundo
Ao analisarmos separadamente, entre países e cidades, podemos observar a relevância da empresa em todo o globo.
Ao total a plataforma encontra-se presente em 220 países e em mais de 110 mil cidades, hospedando mais de 825 milhões de pessoas e gerando receitas somadas de $110 bilhões. Mesmo em 2017, onde a empresa ainda não havia se consolidado, já havia mais opções de hospedagem do que as 4 maiores redes de hotéis somadas.
COVID-19: O grande vilão
Assim como a indústria de turismo, o Airbnb sofreu os impactos da Covid-19 sobre o seu negócio. A teve quedas consideráveis na marcação de hospedagens e experiências, bem como um enorme número de cancelamentos, uma vez que as pessoas não conseguiam mais viajar.
Analisando os dados de setembro de 2020, vemos que o negócio foi significativamente impactado pela pandemia, com valor bruto de reserva (VBG) de US$18 bilhões, houve uma queda de 39% e receita de US$$2,5 bilhões, com queda de 32%.
A fim de suavizar esses impactos, a empresa tomou algumas medidas, tais como suspender seus gastos com marketing, reduzir salários dos executivos por 6 meses, e suspender todas as construções de instalações.
Atento aos riscos
Apesar do modelo disruptivo que criou uma nova categoria de viagens, é preciso dizer, que como todo negócio, há riscos que devemos no ater antes de investir.
Um dos problemas que podemos relatar diz respeito à lucratividade inconstante da companhia. Já estamos cansados de saber que no longo prazo, o preço das cotações das cotações na tela do seu home broker, caminham juntamente com a lucratividade e crescimento da empresa.
O Airbnb tem incorrido perdas líquidas nos anos encerrados em 31 de dezembro de 2017, 2018 e 2019 e nos nove meses encerrados em 30 de setembro de 2020, respectivamente. Ao calcularmos o déficit acumulado em 31 de dezembro de 2019 e 30 de setembro de 2020, chegamos ao valor de $1,4 bilhões e $2,1 bilhões, respectivamente.
Vale ressaltar que todos os esforços voltados para aumentar o número de anfitriões e visitantes, através de ofertas, aumento dos gastos com marketing, expansão das operações e aprimoramento da plataforma, já estão expressos nesse resultado.
Outro ponto que merece nossa atenção é em relação a tendência de queda da taxa de crescimento.
Não podemos negar que o Airbnb teve um crescimento significativo de receita no passado. No entanto, este mesmo crescimento da receita foi desacelerando nos últimos períodos e não há garantia que retornará ao patamar passado, tendo em vista que a taxa de crescimento ano a ano em receita diminuiu em 2019 em comparação com 2018 e também diminuiu em 2018 em comparação com 2017.
Para que a empresa continue crescendo ele deverá gerar cada vez mais receita, para isso ela dependerá de diversos fatores, tais como a capacidade em aumentar o número de hóspedes e noites, fortalecimento confiança e segurança pós covid e um ambiente econômico mais favorável.
Destaco que a empresa tem 3 desafios para 2021:
- Manter os hosts existentes e adicionar novos hosts, fornecendo estadias e experiências de alta qualidade.
- Reter os hóspedes existentes ou adicionar novos convidados.
- Não diminuir o gap em relação aos resultados operacionais e financeiros, em comparação com os seus concorrentes diretos e indiretos.
Conclusão
Historicamente, ao analisarmos um levantamento sobre os retornos de IPO’s nos EUA, desde 2018, do Compound Capital Advisors, identificamos que tem se mostrado um negócio interessante entrar ou investir em companhias que abriram seu capital.
Entretanto, vai lembrar que resultados passados não são garantia de resultados futuros, portanto essa realidade pode ser diferente.
Dado que o ano de 2020 foi bastante atípico para o setor, entendemos que considerar este ano como referência de análise pode não ser o mais indicado. Então considerando as receitas da empresa de 2019 (U$4,8 bilhões), teríamos uma Airbnb sendo negociada a um múltiplo de 8,7x suas receitas.
Tal múltiplo é maior do que a média das empresas de hotel negociadas em bolsa (6x), ou de Resorts (4.4x), e próximo ao múltiplo de Booking e TripAdvisor. Já quando comparamos com outras empresas de tecnologia com modelos disruptivos como Uber, Tesla e Zoom, vemos que o múltiplo do Airbnb apresenta certo “desconto”.
A comparação com as empresas anteriores é válida tendo em vista que seu modelo de negócio também é disruptivo, competindo em oceanos de distância com estruturas do segmento com as de hotéis e resorts.
Imagine que o mercado volte a aquecer após o fim da pandemia, com oportunidades substanciais referentes às viagens e experiência. Acreditamos que os limites entre viajar e viver estão se confundindo, onde é possível viver em qualquer lugar.
Apesar dos desafios mencionados, a plataforma provou ser adaptável para atender as novas formas de viajar. O que começou com 2 pessoas compartilhando colchões, cresceu para hosts listando espaços de todos os tipos, em comunidades de todos os tamanhos, em quase todos os cantos do mundo, com valor de mercado de mais de US$ 100 bilhões.