ESG: Conceito que tem transformado o mercado financeiro

O mercado vem a cada período da história se adaptando a forma como a sociedade e também as relações de negócios acontecem. Hoje em dia, com as pautas sociais e ambientais tão atreladas a praticamente todos os demais setores, as empresas também precisaram mudar a forma como se expõem aos seus investidores.

Foi assim então, que surgiu um tema que tem sido muito explorado dentro do mercado financeiro, que é o conceito de ESG. Essa sigla, significa no inglês Environmental, Social and Governance, que traduzindo para o português significa Ambiental, Social e de Governança.

É uma pauta que tem ganhado cada vez mais espaço dentro do mercado, ao passo que diversas empresas estão tendo que se transformar, frente a essa nova tendência como modelo de negócios, sendo uma das principais preocupações inclusive no planejamento de áreas de investimento das companhias.

É um engano muito grande se pensar que a preocupação com ESG é de apenas ambientalistas, estudiosos da área social ou qualquer coisa do tipo. Investidores gigantes hoje em dia, tem deixado de colocar seu dinheiro em diversas companhias pela sua má reputação nas questões de ESG.

No quesito ambiental, é muito levado em conta a questão da emissão de gases que colaboram para o efeito estufa, por exemplo, no qual estão inseridas as companhias do setor automobilístico, principalmente.

Nas questões de governança, o ponto crucial é a relação com os acionistas e também a independência dos conselheiros que trabalham para aquela companhia. Nas questões sociais, o foco principal está relacionado a questões de diversidade, como participação ativa e em boa parcela da equipe da empresa com os grupos minoritários e formação de programas no combate ao racismo, machismo e demais preconceitos vistos em nossa sociedade.

Os mais variados motivos podem ser incluídos em uma perspectiva de uma empresa que não possui um bom ESG, como por exemplo, pouca preocupação ou contribuição em relação às questões ambientais, escândalos de corrupção dentro da administração da empresa, trabalho escravo, casos marcantes de preconceito com envolvimento da marca, dentro outros.

Qual a importância de ESG no mercado financeiro atualmente?

Atualmente, há cerca de US$ 30 trilhões em ativos relacionados ao conceito de ESG que estão sendo geridos pelo mundo, no qual quase metade deste valor está apenas na Europa, que é a primeira colocada quando nos referimos a esse conceito, mais precisamente US$ 14,1 trilhões pertencentes ao velho continente.

A outra parte, está distribuída entre os demais países do mundo, porém podemos colocar entre os que mais se destacam os EUA, com aproximadamente US$ 7,8 trilhões, e o Japão, com cerca de US$ 5,4 trilhões desse total.

A maior gestora de ativos do mundo, A BlackRock, já afirmou sua preferência por ativos ligados ao conceito de ESG, e ainda realizou uma pesquisa com centenas de investidores, no qual concorda-se que aproximadamente 37% dos ativos até 2025 serão de ESG.

Cerca de 425 investidores foram entrevistados em 27 países, dos quais 54% concordaram que a sustentabilidade é um fator fundamental para alavancar os resultados da empresa. Além disso, estes ainda consideraram dobrar seus investimentos em ativos ligados à ESG nos próximos 5 anos.

Caso isso se concretizar, o potencial seria praticamente saltar de 18% do total dos investimentos em ativos ESG para aproximadamente 37%, mais que dobrando o valor. Esses dados mostram uma tendência crescente em relação ao mercado, em direção da ESG, de modo que quem não se adaptar ou ficar ultrapassado quanto a isso, poderá perder uma boa parte dos seus investidores com o passar do tempo.

Outra questão para o momento, são as formas que se pode utilizar para expandir o nível de ESG dentro das empresas, que hoje em dia, acabam ficando um pouco limitadas, em sua maioria, apenas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU e também do Acordo de Paris para elaborar essa expansão.

Quando maior for essa tendência ao longo dos anos, mais estratégias de aumentar a presença de ESG dentro das companhias vão surgir, e assim, as empresas têm a possibilidade de competir até mesmo em quem tem a melhor estratégia para tal avanço.

Com a tendência deste crescimento, é cada vez mais comum a criação de novos fundos de investimentos relacionados às questões de sustentabilidade, como podemos ver na evolução disso com o passar dos anos, no gráfico a seguir, em relação a esse desenvolvimento nos EUA até 2018:

esg mercado financeiro

A ocorrência da pandemia em 2020 acabou acelerando a expansão do conceito de ESG nos últimos meses, já que a crise de saúde e social, acabou escancarando por exemplo a preocupação das empresas com relação aos seus funcionários, que também está ligado a boas estruturas de governança e questões sociais.

Dessa forma, a necessidade cada vez maior que as empresas têm de mostrar algum valor a sociedade está inteiramente relacionado a essas questões de ESG, como por exemplo no contexto da pandemia, que empresas fizeram grandes doações para que fossem repassados para se investir em medidas que ajudassem no combate ao avanço da Covid-19.

O conceito de ESG no Brasil

O Brasil costuma estar na maioria das vezes um passo atrás das maiores economias globais quando o assunto está ligado ao mercado financeiro, e assim, quanto ao conceito de ESG não foi diferente.

No Brasil, ESG ainda é algo que está apenas começando, embora na Europa, EUA e Japão isso já é uma realidade bastante conhecida, com um desenvolvimento muito maior em relação a isso. Porém, assim como nos demais países emergentes, a ideia tem ganhado força na cultura empresarial.

Empresas que baseiam sua cultura em ESG por aqui ainda acabam sendo exceções a regra, e o modelo que adotamos para tais conceitos, quase sempre são trazidos do mercado estrangeiro, onde isso já é algo muito mais promissor.

Mesmo assim, temos na bolsa de valores brasileira, a conhecida B3, 4 índices conhecidos que são diretamente relacionados ao conceito de ESG. O primeiro deles é o ICO2, ao qual seria o Índice Carbono Eficiente, desenvolvido em parceria da B3 juntamente com o Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES).

Esse índice tem como participação as empresas pertencentes ao IBrX50 que é um índice no qual sua composição é realizada levando em conta as companhias com preocupações voltadas a emissão de gases do efeito estufa e fatores relacionados.

A ideia seria que essas empresas relatassem de maneira formal e periódica a performance em direção a baixa emissão de carbono e de outros gases do efeito estufa, medindo o seu grau de eficiência em tal iniciativa. Desse modo, o ICO2 acaba sendo uma grande contribuição para o desenvolvimento de ESG no Brasil e uma opção de investimentos muito promissora.

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ICO2. Fonte: TradingView

Como podemos perceber, investir em ESG além de ser uma tendência daqui pra frente, também tem sido uma excelente opção de lucratividade. Dessa forma, O ICO2 acaba colaborando muito para o desenvolvimento desses conceitos no Brasil.

Outro índice bastante conhecido de ESG no Brasil é o IGCT. Este, por sua vez, é o Índice Governança Corporativa Trade que é, em geral, relacionado a questão de governança nas empresas presentes na bolsa de valores brasileira. 

O objetivo dele é justamente indicar a performance e o desempenho das ações que foram emitidas por empresas que utilizam modelos de governança corporativa mais engajados com a responsabilidade inovação no meio administrativo.

O investidor tem duas formas possíveis de comprar os ativos relacionados a esta carteira teórica, ao qual poderia ser através do GOVE, que é uma ETF que tem por objetivo replicar o IGTC na bolsa de valores, e também através da compra manual dos ativos que compõem essa carteira, com base nas distribuições de participação pré-determinadas pelo próprio índice.

Leia também:

O que é um ETF?

Como criar uma carteira diversificada em ETFs

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IGCT. Fonte: TradingView

A própria performance da ETF GOVE tem se mostrado uma forma muito interessante de investir em ativos com propósitos de uma boa governança corporativa, e mesmo com a queda intensa durante a pandemia, sua subida tem sido encaminhada para uma nova tendência de alta recorde.

Nessa mesma linha de índices representativos de ESG no Brasil, temos também o ISE. Este, por sua vez, é o Índice de Sustentabilidade Empresarial, que está diretamente ligado às questões de sustentabilidade corporativa, levando em conta equilíbrio ambiental, preocupações com fatores sociais e também a própria governança.

Ele foi criado em 2005 e além de todas essas questões citadas, ainda tem relação direta com a preocupação sobre a presença de ética dentro do âmbito empresarial, sendo um índice que engloba quase tudo que está ligado ao ESG e tem trazido aos investidores uma rentabilidade muito favorável desde que foi criada e para quem optou por segui-la.

Recentemente, foi criado pela S&P Dow Jones e a B3, o que foi considerado o maior provedor de índices do mundo, que é o índice S&P/B3 Brasil ESG. É um indexador baseados em questões relacionadas ao ESG, e assim, expor de forma internacional as empresas que se sobressaem em relação a isso.

Neste índice, as maiores representantes brasileiras se dão por: Bradesco, Banco do Brasil, Itaú, Itaúsa, Cemig, Telefônica, Weg, Braskem, Renner e Natura, onde além de empresas bastante conceituadas no mercado financeiro no Brasil, também apresentam boa relação com os conceitos de sustentabilidade.

Conclusão

Com as transformações de nossa sociedade a respeito do ponto de vista de como lidar com o âmbito de negócios, além das prioridades do que se deve considerar mais relevante para determinar a importância de uma empresa no meio corporativo, o ESG acabou mudando totalmente o mercado financeiro.

Agora, não se deve levar em conta apenas questões financeiras de uma empresa ou o projeto dela em si. Boas empresas para investimento no futuro tendem a ser aquelas que têm papéis que vão além do lucro, mas que também entregam para a sociedade algo que seja enriquecedor do ponto de vista social e sustentável.

Dessa forma, a questão do lucro passou a ser também algo atrelado a essa responsabilidade atual com a sustentabilidade, e as empresas passaram a determinar parte do seu capital para investir nessas questões e em sua imagem perante a sociedade em relação a ESG.

Como vimos, é um conceito que tem se mostrado muito forte nas principais economias do mundo, e que aqui no Brasil, tende a ser cada vez mais presente no futuro, com a qual já obtém um crescente desenvolvimento, principalmente no ano de 2020.

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