Texto sobre investimentos de uma gestora escocesa, escrito por Antoine Gara e publicado originalmente em Inglês na Forbes com o título: The dont worry make money strategy trouncing the Stock market by 30 percentagem points.
Quando analistas e gerentes de portfólio apresentam ideias em Edimburgo, Escócia, a empresa de investimentos Baillie Gifford tem uma regra que todos devem seguir. Nos primeiro 20 minutos, qualquer um falando sobre uma ideia tem que ser positivo, contribuindo somente para a alta daquela ação. Diga qualquer coisa com teor crítico e você será retirado da sala.
A regra do otimismo é aplicada para acuar o que os sócios acreditam que é uma tendência natural de pessoas inteligentes, ser céticas e recusar ideias prematuramente. Mas nesses dias a regra tem ainda mais significado à medida que a pandemia se espalha.
Assim como quase todos no mundo ocidental, os 1317 colaboradores não podem se reunir no escritório, onde uma placa imponente comunica na porta “Verdadeiros investidores pensam em décadas, não em trimestres”.
“Uma das coisas que nos sentimos obrigados a fazer neste momento é encorajar as empresas que apoiamos a serem corajosas.” diz James Anderson, 60, co-gerente de estratégias da Baillie Gifford, veterano de 37 anos na empresa de 112. Baillie Gifford chegou a enviar e-mails para as empresas de seu portfólio, encorajando CEOs a não fazerem demissões em massa e cortar custos. Eles até ofereceram mais capital para que eles pudessem manter seus planos de crescimento.
É incomum para uma gestora de investimentos grande se apropriar de um cenário cheio de riscos. Mas entre as gestoras, Baillie Gifford, com seus US$ 245 bilhões é um ponto fora da curva. A empresa não presta muita atenção em métricas tradicionais de valuation como lucro por ação ou índice preço/lucro.
Está especialmente focada em três coisas: crescimento, vantagem competitiva e perseverança – e ela não se importa em colocar o dinheiro de seus investidores em ações que causaria enjoo em investidores de valor.
Alguns exemplos: Zoom, a empresa de videoconferência agora onipresente, que tem um índice preço/lucro de 400; a desenvolvedora de softwares para e-commerces Shopify, com 50 vezes o valor do faturamento; varejista online de móveis Wayfair, que pediu US$ 1 bilhão em 2019, o dobro no ano anterior.
Mas essas mesmas ações, e mais algumas outras 30 a 50 mantidas em seus 14 portfólios de investimentos mútuos, são as mesmas empresas se beneficiando de tendências que já existiam e que estão se acelerando durante a crise.
Fale uma ação que sofreu alta durante o coronavírus que Baillie Gifford descobriu e já tinha montado uma posição enorme antes mesmo de o vírus se espalhar. A empresa segura por muito tempo posições multibilionárias na Alibaba, Amazon, Tencent, Microsoft e Netflix. As novas compras incluem Zoom, Modena, esperança para a vacina do COVID 19, Telatoc, healthtech, e Chegg, varejista de livros online.
A gestora é uma grande acionista da Wayfair, que inicialmente caiu com a propagação do COVID19, mas subiu 8 vezes quando as vendas dispararam, pois as pessoas em quarentena começaram a fazer melhorias em suas casas. Baillie Gifford também é um dos maiores acionistas da Grubhub e Peloton, plataforma de ciclismo que muitos estão usando para queimar o peso que adquiriram na quarentena.
Estas escolhas da Baillie Gifford estão prontas para o sucesso no pós-pandemia
O retorno para os investidores da Baillie Gifford para 2020 não são nada menos que milagres. Scottish Mortgage Trust, o carro-chefe de US$ 10 bilhões que Anderson co-gerencia, uma nova focada em longo prazo Global Growth Fund com US$ 40 bilhões em ativos, estão em alta de 20% por ano, ganhando do S&P 500 por 30 pontos.
As duas tiveram retornos similares nos últimos cinco anos, mais que dobrando o índice. Os novos fundos da gestora centrados em empresas dos EUA e aqueles causando mudanças positivas também se saíram bem, crescendo 25%. Até fundos que estão em baixa ultrapassaram seus concorrentes.
Enquanto as private equities e chefes corporativos gastaram a última década fazendo empresas enxutas e alavancadas, os analistas da Baillie Gifford ignoraram tudo isso e buscaram empresas investindo em pesquisa e tecnologia.
Eles gostam particularmente de projetos que podem não ser lucrativos imediatamente, mas que possam impulsionar a economia daqui a uma década.
Investimentos quantitativos são agressivos, mas a empresa escocesa está indo para outra direção, negociando pouco e gastando seu orçamento de pesquisa patrocinando prêmios literários, investigando novas ideias filosóficas e ocupando cadeiras de universidades em genética e biologia computacional.
Baseada na “Cidade Nova” do século XVIII, em Edimburgo, a uma curta caminhada da “Cidade Velha”, parte medieval da cidade, Baillie Gifford é grande e velha demais para ser rotulada como simplesmente sortuda. A empresa foi fundada em 1908, logo após o pânico de 1907, pelo coronel Augustus Baillie e advogado Carlyle Gifford.
O retorno do coração valente
Grandes vitórias entre as empresas de tecnologia disruptiva como Amazon, Illumina e Tesla ajudaram a tornar fácil para a empresa escocesa esquecer o insucesso que acaba em falência.
O coronel fez seu nome lutando na Segunda Guerra dos Bôeres, enquanto seu parceiro, Gifford, ficou conhecido por ajudar a financiar a Segunda Guerra Mundial da Grã-Bretanha ao vender o tesouro da coroa no exterior, principalmente para investidores nos EUA.
Um dos primeiros negócios de Baillie Gifford foi fazer empréstimos para fabricantes de pneus, acreditando que o pioneiro Modelo T de Henry Ford revolucionaria o mundo. Após a Primeira Guerra Mundial, a empresa decidiu que os Estados Unidos eram um “mercado emergente” atraente e investiu em ferrovias como Union Pacific e Atchison, Topeka e Santa Fe, investindo 20% de seus ativos nos Estados Unidos. Na década de 1960, foi um dos primeiros investidores no Japão.
Quando a bolha de ações da Internet estourou em 2000, Baillie Gifford sofreu uma queda, mas assim como investidores fugiram de empresas como a Amazon, a empresa apoiou a visão de Jeff Bezos. Foi a notável resiliência e sucesso da Amazon que deu origem à abordagem pensar-feliz-primeiro, ser-crítico-mais-tarde. Seu timing foi perfeito. Gigantes da tecnologia como Amazon, Google e Microsoft estão agora carregando o S&P 500.
“Começamos a perceber que as grandes empresas ficaram melhores e mais fortes, e seus retornos aumentaram à medida que cresceram, e não o contrário”, diz Anderson.
“Se você puder acertar uma ou duas dessas empresas excepcionais que realmente impulsionam os mercados no longo prazo, pagará pelos erros inevitáveis”, diz Tom Slater, 42, co-administrador de alguns fundos emblemáticos ao lado de Anderson. Em 2012, a empresa aderiu a tendências que estavam surgindo, como cloud computing e líderes asiáticos como Alibaba e Tencent.
Embora Tom Slater, sócio encarregado do Equity Team dos EUA da Baillie Gifford, tenha estudado ciência da computação e matemática, ele não é importante nisso como nos investimentos.
Para Baillie Gifford, seguir a multidão levou a algumas grandes falhas, incluindo a empresa brasileira de petróleo de Eike Batista, OGX, Vestas Wind Systems, LendingClub e Nio.
Também detém participações na turbulenta Airbnb e no fabricante de malas Away. Mas tem o retorno de 100 vezes na Amazon, de 16 vezes na Tesla e um ganho de 17 vezes na Naspers, o conglomerado sul-africano que possui 31% das ações da Tencent.
Cerca de US$ 35 bilhões do capital de Baillie Gifford estão investidos na China. As grandes participações incluem empresas de delivery como a Meituan-Dianping e a plataforma de e-commerce Pinduoduo. Na Europa, é proprietária da HelloFresh, uma empresa que entrega kits de refeições. E da Amazon da América Latina, o Mercado Livre.
A Scottish Mortgage Trust, listada em Londres, detém a maioria dos investimentos privados da Baillie Gifford, incluindo participações em Stripe, ByteDance, Ginkgo Bioworks, pioneira em engenharia biológica, e CureVac, a empresa de vacinas contra o coronavírus apoiada por Bill Gates, que o presidente Trump queria comprar.
A confiança escocesa aumentou cinco vezes na última década. Entre seus fundos mútuos disponíveis para os investidores dos EUA, o Crescimento Global a Longo Prazo e o Crescimento em Ações dos EUA tiveram melhor desempenho.
A Baillie Gifford orgulhosamente adota os investimentos em ESG (environmental, social and governance, em português: ambiental, social e de governança). A empresa diz que trabalha com a Amazon em sustentabilidade e condições de trabalho, incentiva o Google a pagar mais em impostos e votou contra o que considerava pacotes altos de remuneração dos executivos da Apple.
E os bilhões que a Baillie Gifford tirou de seus investimentos na Tesla, cujo proprietário, Elon Musk, pode ser o garoto propaganda da má gestão corporativa?
De acordo com Anderson, Baillie Gifford ficou preocupado com a batalha egocêntrica no Twitter de Musk durante o resgate das crianças de uma caverna na Tailândia em 2018. Bem como seu tweet infame “US$ 420” sobre privatizar Tesla, o que levou a sanções da Comissão de Títulos e Câmbio dos Estados Unidos. Mas ainda votou a favor do recente pacote de incentivos de mais de US$ 50 bilhões de Musk, o maior da história corporativa.
Anderson diz: “Acho que cabe a nós apoiar o apetite extraordinário por mudanças boas para o mundo e não se afetar por qualquer solavanco na estrada”.
Provando que o otimismo pode pagar, desde que você não se preocupe com muitos detalhes.