É novidade para poucas pessoas que o Real vem sofrendo uma grande desvalorização durante o ano de 2020. Contudo, essa forte desvalorização começou ainda no final do ano passado, se tornado mais aguda no começo do ano. Apesar disso, a taxa de câmbio pouco diz sobre nosso poder de compra. Para isso, o The Economist criou o “Índice Big Mac”.
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Isso quer dizer que a cotação do dólar é muito mais resultado das negociações no mercado financeiro. Por exemplo: 1 dólar vale 9,91 coroas norueguesas. No Brasil, 1 dólar vale R$ 5,69. Isso quer dizer que o poder de compra dos brasileiros é maior que o dos noruegueses? Analisando apenas o câmbio, não é possível chegar nessa resposta.
Para isso, existe a Teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC), que diz que além de olhar o câmbio, deveríamos também olhar para o poder aquisitivo de cada moeda em um país. Desta forma, conseguiríamos chegar em um número mais assertivo para determinar se uma moeda está valorizada ou desvalorizada frente a outra.
De acordo com a teoria, duas moedas estão em equilíbrio quando um conjunto de bens e serviços tem o mesmo valor nos dois países, considerando a taxa de câmbio entre eles. Além disso, no longo prazo o preço dos bens e serviços tendem a convergir entre os diferentes países por meio da arbitragem, criando uma espécie de “Preço Único”.
O Índice Big Mac
O problema é que o mesmo produto em diferentes países pode ter também diferentes preços. Uma das grandes sacadas do Índice Big Mac foi encontrar um produto que tem mais probabilidade de custar o mesmo em diferentes países.
O Big Mac é um hambúrguer produzido com os mesmos ingredientes em mais de 120 países. Assim, convertendo diretamente pela taxa de câmbio, ele deveria custar o mesmo preço em todos os locais, caso fosse convertido para dólares.
Com isso, se o sanduíche no Brasil estiver custando menos que nos Estados Unidos, quer dizer que nossa moeda está valorizada frente ao dólar. Por outro lado, se o Big Mac estiver mais caro aqui no Brasil do que nos Estados Unidos, isso quer dizer que nossa moeda está desvalorizada.
Partindo dessa premissa, em 1986 a revista The Economist acabou criando, de forma despretensiosa, um índice que é usado como referência e ensinado em muitas universidades de economia até hoje. De acordo com eles, esta hipótese é embasada em diferentes estudos acadêmicos, que afirmam que o Big Mac se tornou um “padrão mundial”.
Trazendo o Índice Big Mac para a prática
O conceito de Paridade do Poder de Compra é difícil de entender quando ficamos só na teoria. Então nada mais adequado do que trazê-lo para a prática. E é aí que reside a genialidade do Índice Big Mac, pois eles conseguiram criar um dado de fácil entendimento para todos.
Imagine que um Big Mac aqui custe R$ 20, enquanto o mesmo sanduíche custa US$ 5 nos EUA. Com isso, temos uma taxa de câmbio de 1 para 4. Isso quer dizer que 1 Big Mac no Brasil custa 4 vezes mais unidades monetárias do que nos Estados Unidos. Com isso, o “dólar Big Mac” seria de R$ 4,00.
Mas existe um problema: o “dólar Big Mac” não é a taxa de câmbio oficial entre Brasil e Estados Unidos, pois a cotação oficial é o “dólar comercial” negociado na bolsa de valores. E imagine que este dólar comercial custe R$ 5,70.
Se um Big Mac custa US$ 5,00 e o dólar comercial é de R$ 5,70, você precisaria desembolsar R$ 28,50 se viajasse para os Estados Unidos, ou seja, pagaria 42,5% mais caro do que aqui no Brasil. Isso significa que o Real está desvalorizado frente ao Dólar, pois seu poder aquisitivo é bem menor.
Ou seja, um americano poderia comprar Big Macs nos Estados Unidos e vendê los no Brasil, ganhando lucro financeiro, fazendo uma espécie de “Arbitragem de Big Macs”. Mas o hambúrguer poderia estragar durante a viagem, além disso, haveria custos de transação.
No entanto, desconsiderando estes fatores, caso todos os americanos tenham a mesma ideia, o preço do Big Mac no Brasil custaria o mesmo que nos Estados Unidos: R$ 20,00. Com isso, haveria um preço único de Big Macs.
Trazendo dados reais para o Índice Big Mac
A questão fica mais interessante ainda quando trazemos os dados reais do Índice Big Mac, disponíveis no site do The Economist. Como podemos ver abaixo, no período de 2009 a 2011, a moeda brasileira esteve sobrevalorizada frente ao dólar, custando na faixa de R$ 1,50 a R$ 2,00 durante o intervalo.
Índice Big Mac
Nesse período, o dólar estava desvalorizado frente em relação a muitas moedas ao redor do mundo. O Brasil também vivenciava o chamado “Boom das commodities”, que aconteceu quando as principais commodities que estávamos exportando se valorizaram diante da alta demanda dos chineses.
No entanto, com o passar dos anos, o cenário mudou e o dólar ficou mais forte frente a outras moedas. Com os dados de janeiro de 2020 (o índice é calculado semestralmente), podemos ver poucos países com uma moeda mais forte que a norte-americana, justamente a Coroa Norueguesa e os Francos Suíços. Veja no Gráfico abaixo:
Legal, mas onde posso aplicar este índice?
Imagine que você viajou para Miami e viu os preços de um monte de roupas e eletrônicos, não é só porque aquele preço é menor que no Brasil que significa que você estará pagando mais barato. Em algumas ocasiões, produtos vendidos aqui no Brasil podem estar mais baratos do que se você for comprar o mesmo nos Estados Unidos.
Isso raramente se aplica aos eletrônicos como videogames e celulares, pois aqui há uma taxa de importação que dificulta a aquisição destes produtos diretamente do estrangeiro. No entanto, isso não se aplica a muitos outros produtos como gasolina, comida, transporte e entretenimento.
Por exemplo: 1 Real Brasileiro vale 141 pesos chilenos. Mas isso significa que se você for para o Chile estará rico? Não, pois é preciso ver o poder de compra da moeda e comparar o preço dos produtos. Muitas vezes você estará pagando mais caro em produtos enquanto acha que está pagando mais barato, pois também dependerá do PIB do país em que você está.
No final das contas, a viagem poderá sair mais cara do que você está imaginando. E este é o principal objetivo do Índice Big Mac: mostrar o verdadeiro poder de compra quando comparamos moedas e bens de diferentes países.